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Como o Reggae pode te ensinar a sempre buscar evoluir

Como o Reggae pode te ensinar a sempre buscar evoluir
Maria Clara Martins
Dec. 30 - 13 min read
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Apesar de ser eclética, o reggae ocupa inúmeras faixas na minha playlist pessoal. O ritmo calmo e as letras que remetem à paz e amor me fazem viajar nos pensamentos. Porém, não é só de amor e paz que o reggae se trata. É antes de tudo um ritmo de resistência, e que busca sempre uma evolução pessoal e espiritual. No artigo de hoje, vou mostrar para vocês como o reggae pode te ajudar a evoluir!

 

Nasce o Reggae

O reggae surgiu na Jamaica, na década de 60, influenciado pelo movimento Rastafari. A principal temática é a crítica social, envolvendo questões como fome, preconceito e desigualdade, mas atualmente também envolve outros temas, como paz, amor e espiritualidade. Antes de se tornar independente da Inglaterra, as rádios brancas jamaicanas não tocavam o reggae. Só após a independência é que o ritmo se difundiu e estourou no mundo todo, através de grandes músicos como Bob Marley e Jimmy Cliff.

 

Rastafari e o Reggae

Para entender o que o reggae prega, é preciso primeiro conhecer sua principal influência, o movimento Rastafari, que é uma crença nascida na Jamaica na década de 30 e que atualmente é seguida por cerca de 1 milhão de pessoas no mundo. O movimento prega a adoração do deus Jah, que é uma abreviação de Jeová, nome que aparece nas escrituras hebraicas, gregas e na bíblia, que teria reencarnado no século 20 como o imperador da Etiópia Haile Selassie I.

Os rastas não cortam o cabelo e evitam aparar a barba, seguem uma dieta quase vegetariana, preferem tratamentos com ervas medicinais e não usam drogas, a não ser a maconha, mas somente em rituais de meditação, pois o uso da maconha só para fins recreativos é considerado desrespeitoso. As cores verde, vermelha e amarela, da bandeira etíope, são um símbolo da religião, pois representam lealdade a Jah e à África acima de tudo. O verde representa a vegetação africana, o vermelho representa o sangue dos mártires e o amarelo representa a riqueza e a prosperidade do continente (antes da exploração colonialista).

A partir desse modo de vida, e da história da criação da religião, o reggae ganhou forma, cantando o dia a dia do povo negro e a busca por sua evolução espiritual, falando de paz e amor, mas também fazendo críticas às injustiças do mundo.

 

Maranhão: a Jamaica brasileira

Você sabia que o Maranhão é um polo tão forte de reggae que é chamado de “Jamaica Brasileira”? O ritmo chegou lá nos anos 70, se estabelecendo na periferia e depois se expandindo para todo o Maranhão e resto do Brasil. No início, era visto com maus olhos, por ser um ritmo de raízes africanas (puro racismo mesmo), então a difusão do ritmo foi feita não através das rádios, mas sim das próprias pessoas que compravam os CD’s nos shows, o que fez com que os donos de clubes e de radiolas começassem a procurar os cantores de reggae.

As radiolas são como os paredões de som, e esse nome vem da junção de rádio e vitrola. Foram as radiolas que espalharam pelo estado as chamadas “pedradas”, nome dado as músicas que mais faziam sucesso. E detalhe curioso: o Maranhão é o único lugar onde se dança reggae coladinho, a dois, o tal do “agarradinho”. Incrível, não é?

 

 

Hoje em dia o reggae emprega muitas pessoas no Maranhão, sendo marca forte da cultura do estado através das letras que cantam paz, amor e resistência.

 

Agora que você já aprendeu um pouquinho sobre como o reggae surgiu, a influência do movimento Rastafari e o point brasileiro do reggae, vou apresentar pra você algumas bandas e cantores que fazem sucesso no nosso país (e também lá fora), e os temas que eles abordam que podem te fazer refletir e crescer através das canções:

 

#1 - Natiruts: reggae no Planalto Central

 

Quem nunca ouviu Natiruts pelo menos uma vez na vida? A banda de Brasília é uma das mais conhecidas do ritmo, e estourou nas rádios nacionais ao som de “Presente de um Beija-Flor”. Na letra dessa música é possível ver uma das maiores dificuldades que o reggae enfrenta, que é o preconceito, sempre sendo dita como “música de maconheiro” ou “música de vagabundo”:

 

“E a menina que um dia por acaso veio me dizer

Que não gostava de meninos tão largados

Que tocam reggae e MPB

Mas isso é coisa tão banal perto da beleza do Planalto Central

E das pessoas que fazem do Cerrado

O habitat quase ideal”

 

(Trecho de "Presente de um Beija-Flor")

 

#2 - Mato Seco: resista!

 

A banda canta principalmente a resistência, que está presente até mesmo no nome, como eles mesmo dizem: uma árvore passa por diversas fases, chegando até a ficar seca, como mato seco, mas sempre volta a dar frutos. Um hino regueiro que é marca registrada da banda é a música “Mato Seco (Resistência)”:

 

“Eu sou

A resistência

Tudo que se move

Contra o sistema

A mãe que sobrevive sem comida na mesa

O solo do sertão

Que resiste a seca

 

Mato seco, seco

Mato seco, seco, a resistência

Mato seco, seco

Mato seco, seco, a resistência”

 

(Trecho de "Mato Seco (Resistência)")

 

#3 - Maneva: reggae e desenho animado

 

Maneva é uma banda paulista que no início de 2020 resolveu inovar lançando um álbum com clipes de animação. O personagem principal é o Cabeça de Folha, que a cada música vai evoluindo e descobrindo seu espaço no mundo. É retratada uma jornada de autoconhecimento, como é possível ver já na primeira música do álbum intitulada “Lindo, Leve e Pleno”:

 

“Sou lindo, leve e pleno

Não tenho roteiro ou direção

Sou branco e também negro

Sou de qualquer credo ou religião

Posso ser desespero ou ser acalento

Depende a ocasião

Sou um secreto desejo

Ou posso estar aos ventos, sem direção”

 

(Trecho de "Lindo, Leve e Pleno")

 

#4 - Ponto de Equilíbrio: voz marcada e (r)evolução

 

A mistura de agudos e sussurros é uma característica marcante da banda carioca, que tem como principal temática a evolução do ser humano em relação a seu caráter, além de sempre lembrar em suas letras qual é a raiz do reggae: a resistência. Duas de suas músicas mais famosas ilustram isso, “Aonde Vai Chegar (Coisa Feia)” e “Árvore do Reggae”, e abaixo você encontra um trechinho das duas, respectivamente:

 

“Seu assunto principal é falar mal

Onde você vai chegar assim? (Onde vai?)

Onde você vai chegar assim?

Seu assunto principal é falar mal da vida alheia

Mas isso é coisa feia

Isso é coisa feia

Antes, antes, de julgar mal

Porque não olha pra si mesmo

Verá que está cometendo maior ou mesmo erro

Maior ou mesmo erro”

 

(Trecho de "Aonde Vai Chegar (Coisa Feia)")

 

“Os seus frutos de paz

Árvore do reggae, reggae raiz (frutos de resistência)

Árvore do reggae, reggae raiz (frutos de positividade)

Árvore do reggae, reggae raiz (combatendo de frente o sistema)

Árvore, árvore, raiz (resistência)

Árvore, árvore, raiz (positividade)

Árvore, árvore, raiz (combatendo de frente o sistema)

Árvore, árvore, raiz”

 

(Trecho de "Árvore do Reggae")

 

#5 - Marina Peralta: mulher regueira, sim senhor!

 

Um dos grandes talentos que vem crescendo na cena do reggae é Marina Peralta, diretamente do Mato Grosso do Sul, indo contra a tradição sertaneja do estado. A cantora aborda bastante temáticas como o empoderamento feminino, e em setembro desse ano lançou uma música para que o mundo visse o que estava acontecendo no Pantanal. Segue abaixo um trechinho da música “Águas para o Pantanal” e da música “Ela Encanta”:

 

“Enquanto esse fogo todo

Atravessa o Pantanal

Veias abertas de mim

Secam temendo o fim

 

Segredos de onde venho

De alagar o coração

Doce rio, deságua, banha

Sucuri, tuiuiu, onça

Mãos do povo esperança

Pra pedir

 

Que chova sobre o Pantanal

Água sobre o Pantanal

Olhem para o Pantanal

Deram as costas para o Pantanal”

 

(Trecho de "Águas para o Pantanal")

 

 

“Ela foi chegando devagar

Veio já tirando todo ar

Desmistificando tudo o que o povo insiste em falar

E a sua roupa ela escolheu

Não pediu pra você nem pra eu

Porque ela entendeu que ela mesma manda

Nesse corpo que é seu”

 

(Trecho de "Ela Encanta")

 

#6 - Armandinho: Eu Sou do Mar

 

“Quando Deus te desenhou, ele tava namorando, na beira do mar, na beira do mar do amor”. Quem nunca ouviu esse trechinho da música Desenho de Deus, do Armandinho? Um dos grandes talentos do reggae, o cantor tem várias músicas que falam sobre o mar e, como diz o ditado “quem ama, cuida”, a música “Eu Sou do Mar” trata exatamente do cuidado com o ambiente praiano:

 

“Só entre no mar se você

Sabe a força divina que ele tem

Se você não polui seu azul

E respeita o irmão em comum

 

Leva a mãe natureza na fé

Curte o Marley e o reggae no pé

Sai da praia com o lixo na mão

O futuro é a preservação

 

Não adianta, eu sou do mar

Nasci pra ter na pele o seu sol

Não adianta, eu sou do mar

É ele que me faz cantar”

 

(Trecho de "Eu Sou do Mar")

 

#7 - Tribo de Jah: pioneiros na Jamaica Brasileira

 

Uma das pioneiras do reggae no Brasil, a banda que se iniciou com 4 amigos da Escola de Cegos do Maranhão é reconhecida internacionalmente por tocar o reggae roots, com letras cheias de críticas sociais e busca da espiritualidade através de Jah. Se liga num trechinho da famosa música “Regueiros Guerreiros”:

 

“Mais um dia se levanta

Na Jamaica brasileira

Mais uma batalha que desperta

A nação regueira

 

Eles descem dos guetos logo cedo

Se concentram nas praças e ruas do centro

Lavando, vigiando carros, vendendo jornais

Construindo prédios, obras, cuidando de casas e quintais

 

São menores, maiores brasileiros

São os dreads verdadeiros do Maranhão”

 

(Trecho de "Regueiros Guerreiros")

 

#8 - Damian Marley: o filho do rei

 

Filho de Bob Marley, Damian seguiu os passos do pai e hoje é um grande talento regueiro. Canta a liberdade dos povos, a resistência, o amor, a paz e seus princípios Rastafari, como se pode ver na música “Medication”, que tem como musa inspiradora a maconha e suas propriedades medicinais:

 

“Medication

Your medication makes me high

Just be patient

I'm like a patient trying to find

Levitation

Run your fingers down my spine

Elevation

Your medication makes me high”

 

(Trecho de "Medication")

 

Tradução:

“Medicação

Sua medicação me eleva

Apenas seja paciente

Sou como um paciente tentando encontrar

Levitação

Passe os dedos pela minha coluna

Elevação

Sua medicação me eleva”

 

Bônus: A Tropa – reggae do vale

 

Por último, mas não menos importante, trago para vocês uma banda aqui da minha terrinha Pindamonhangaba, chamada A Tropa, que é referência de reggae no Vale do Paraíba. Suas músicas fazem jus ao reggae roots, como é possível ver na letra de “Humanos em Macacos”:

 

“Na TV, no jornal, alguém se consagrou

Nas escolas ensinam a ter sempre um superior

Inventaram a fórmula do homem alienado

Transformar humanos em macacos, humanos hein

Deuses, não te dão nenhuma atenção

Você respeita e atura vários meses, mas

Reclame se puder, vá embora se puder

Então, reclame se puder, vá embora se puder, vai”

 

(Trecho de "Humanos em Macacos")

 

Agora que você aprendeu um pouco sobre o reggae, e conheceu várias bandas e cantores, já dá pra perceber como a música pode te fazer pensar. Esse ritmo que trata de tantas questões sociais e ambientais reflete a realidade de muitas pessoas. É através do reggae e de outros ritmos da periferia que se descobre o dia a dia dos menos favorecidos. E é através do reggae também que muitas pessoas ganham a vida, como se pode ver claramente no Maranhão. O reggae é resistência e esperança, pelas graças de Jah! E a partir do reggae, com todas essas temáticas, você pode sempre evoluir, buscando ser uma pessoa melhor em todos os aspectos, exatamente como o reggae roots prega, não acha?

 

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Que a força do reggae esteja com você! Um beijo da Maria <3

 

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