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"E o sinal está fechado para nós, que somos jovens."

"E o sinal está fechado para nós, que somos jovens."
Matthæus Braga
Aug. 12 - 3 min read
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"É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem" 

— Belchior, por Elis Regina.

Visionária. Ou melhor, a frente de seu tempo. Minto: eternamente atual. A canção "como nossos pais",  composição de Belchior eternizada na voz de Elis Regina, nasceu em um cenário completamente diferente do atual: o país vivia uma ditadura militar, com direitos civis suprimidos, censura aos meios de comunicação e uma influência agressiva da direita, que promulgou o conservadorismo e se alinhou de vez com os interesses colonialistas dos Estados Unidos. Embora a música seja sutil ao tratar da realidade daquele momento, abusando de metáforas e analogias sobre pais e filhos, isto é, do passado (conservadorismo) e do futuro (progressismo), a gente sempre pode tomar os versos e interpretá-los a nossa maneira, e essa é a deixa que eu quero pra falar sobre como o "sinal está fechado para nós, que somos jovens", no sentido de que está cada vez mais difícil o ingresso no mercado de trabalho para os pouco experientes.

Primeiro, precisamos refletir sobre o desemprego no nosso país e da comentada "geração canguru" — pessoas entre 24 a 34 anos que adiam a saída da casa dos pais —. Esses talvez sejam os indícios mais gritantes de como a nossa geração está sendo empurrada para a margem no que diz respeito a desenvolvimento econômico, profissional e social. Segundo o IBGE, o índice de desemprego no Brasil é, em média geral, de 12,2% da população. Esse índice mais que dobra, contabilizando 27,1%, quando a faixa etária é restrita para 18 a 24 anos (link para a notícia no final do post). Explicando melhor: o direito ao trabalho têm se tornado cada vez mais difícil para os mais jovens, e isso se relaciona diretamente com a manutenção da independência desse indivíduo, contribuindo para o comportamento "canguru", que é muito sobre a inviabilidade de construir uma vida financeira e profissional alheia aos pais, e pouco sobre afetividade e zona de conforto (como algumas notícias e análises tendem a dizer). E eu ainda não toquei, nem incrementei as estatísticas, fazendo recortes de raça, classe social, gênero e sexualidade, além da pandemia que vivemos atualmente, e esses fatores são fundamentais e decisivos para tratar do mercado de trabalho, que ainda é normativo e conservador (vamos falar melhor disso em futuros posts).

Bom, eu tenho mais a falar, mas não vou ficar aqui e vomitar informações porque quero que tenhamos esse espaço para debates e reflexões. Mas precisamos pensar: o que o mercado quer de nós? Se nos rejeitam por pouca experiência, porque ninguém nunca pensa em nos dar a primeira chance? Temos evoluído muito em pouco tempo: somos universitárixs, com idiomas, alguns com intercâmbio, projetos relevantes, mas ainda assim somos vistos como crus. Encontrar trabalho, qualquer que seja, não deveria ser um sacrilégio. Se é, é porque algo está errado. E a culpa é nossa? Será que, parafraseando a canção que abriu o post, vamos fazer tudo tudo para continuar sendo os mesmos e vivermos com (sic) nossos pais?

Links:

https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2020-05/ibge-taxa-de-desemprego-de-jovens-atinge-271-no-primeiro-trimestre

https://veja.abril.com.br/ideias/o-apogeu-da-geracao-canguru-de-filhos-que-nao-saem-de-casa/

 


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