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Você já ouviu falar em "exasperação imaginativa"?

Você já ouviu falar em "exasperação imaginativa"?
Lucas Costa Souza
nov. 20 - 7 min de leitura
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"Tudo em volta induz à loucura, ao infantilismo, à exasperação imaginativa. Contra isso o estudo não basta. Tomem consciência da infecção moral e lutem, lutem, lutem pelo seu equilíbrio, pela sua maturidade, pela sua lucidez. Tenham a normalidade, a sanidade, a centralidade da psique como um ideal. Prometam a vocês mesmos ser personalidades fortes, bem estruturadas, serenas no meio da tempestade, prontas a vencer todos os obstáculos com a ajuda de Deus e de mais ninguém. Prometam SER e não apenas pedir, obter, sentir, desfrutar."
Olavo de Carvalho.


Antes de iniciar o texto, gostaria de agradecer a live ministrada pelo Caio Perozzo do Instituto Borborema. O conteúdo abaixo é quase uma transcrição de sua explanação. Caso queiram se aprofundar neste e em outros assuntos, assistam na integra clicando aqui.

Mas afinal, o que é exasperação imaginativa?

Para entendermos a expressão, precisamos buscar suas origens etimológicas. Exaspero está relacionado a palavra "aspero" - do latim "áspero" - e significa algo irregular, não agradável, atritado, entre outros. Já a expressão latina "ex" significa extrair, puxar para fora, trazer à luz. Exaspero, então, é o mesmo que tornar-se áspero - rude - em um movimento de dentro para fora. Ela é imaginativa no sentido que se dá na imaginação, isto é, nas imagens mentais que nós temos.

Nossa imaginação funciona à base de estímulos sensoriais.

 

O que isto significa?

Suponha que você esteja conversando com algum índio de uma tribo isolada e pede para ele mentalizar um automóveis. O índio jamais sequer havia ouvido esta palavra antes, com efeito, a palavra "automóvel" gerará nele um vácuo imaginativo, isto é, não irá criar nenhuma imagem imaginária. Se você passar detalhes do que seria o automóvel, através da audição - afinal, o índio está te ouvindo - ele poderá ter uma ideia - mas não muito precisa - do que é um automóvel. Por fim, se você levar até ele um automóvel, quando os olhos do índio - portanto, a visão - tocar o objeto, ele irá ter apreendido os conjuntos de características do automóvel que o personalizam como tal, por exemplo, o fato de ter quatro rodas, de possuir um determinado tamanho, etc.

 

Entretanto, existem determinados estímulos que, ao entrar em nossa imaginação, nos provoca confusão. A imaginação é fundamental na formação do estudante em diversos sentidos, porém se for explorada de maneira desregrada, o seu efeito será contrário ao benefício.

 

Tomemos agora outro exemplo. Imagine que você está com seu amigo em uma festa, e você pergunta a ele onde está Fulaninha. O seu amigo, então, responde rangendo os dentes e apontando "Fulaninha está lá, se derretendo por Zezinho". Você olha na direção apontada e o que vê é simplesmente a Fulaninha conversando com Zezinho, em uma situação normal. Perceba que existe certo destoamento daquilo que seu amigo está dizendo com a situação referente de fato, ou seja, as palavras ditas pelo seu amigo não refletem a situação real.

 

Dito de outro modo, aquilo que a inteligência de seu amigo apreende está sendo hiperbolizado de tal maneira que a narrativa mentalmente criada torna-se "alguém está fazendo algo para me atingir/prejudicar".

 

Isto vai crescendo dentro dele até chegar num certo nível que vem para fora. Isto é exasperação imaginativa. Neste caso, todo ciumento é em certa medida propenso à exasperação imaginativa.

 

Voltando à citação do Olavo de Carvalho, qual a razão dele dizer que "tudo induz à exasperação imaginativa"? Explicarei a partir de outro exemplo.

Imagine que uma determinada pessoa efetuou a compra de algumas roupas pela internet. Durante a entrega, para o seu completo azar - e também de todos os envolvidos - o entregador fora assaltado. Tão logo ele soube, enviou uma notificação para a loja que muito ágil e gentilmente enviou novos produtos. Passado poucos dias ele foi surpreendido, pois as mercadorias que foram outrora roubadas estão recuperadas e entregues à casa dele, ou seja, ele ficou com um par de cada item comprado.

 

Assim que a mercadoria chegou, o Fulaninho providenciou com a loja o Correio Reverso para que esta pudesse ser devolvida ao remetente, afinal, não havia lógica em querer causar tamanho prejuízo em uma loja que ajudou-o com tamanha presteza no envio de novas mercadorias.

 

Quando ele contou essa história para um grupo pequeno de amigos, todos, sem exceção, afirmaram que ficariam com a mercadoria, afinal, a culpa não era deles e ainda teriam o trabalho de reenviá-la para a loja. Então, o Fulaninho que havia agido de maneira tão nobre da última vez, passa a inflamar-se e a ficar desgostoso das pessoas que o cercam. Em outras palavras, ele perde a centralidade.

O mesmo ocorre quando um estudante de uma determinada área fica áspero ao ver alguém que não detém tanto conhecimento agir de maneira equívoca em relação ao seu objeto de estudo. A pessoa cai em soberba, pois é como se uma série de imagens confusas tivessem se apossado de sua imaginação. Este azedume, posteriormente será descontado em outras pessoas. Isto é exasperação imaginativa.

 

Por isto, diz Olavo, "o estudo não basta", pois você pode cair na soberba. Para resolver este problema, precisamos trabalhar duas questões.

 

Humildade

Tudo se centraliza na humildade. Porém, ela por si mesma é muito abrangente, por isto pode ser divida em dois tópicos:

Benevolência

Quando você olhar para aqueles indivíduos que desejavam permanecer com as roupas, para aquele indivíduo que age de maneira torpe sobre seu objeto de estudo, lembre-se de que a culpa não é deles. Eles imaginam que isto esteja certo com base na realidade que eles apreendem. Entretanto, não se enganem e não caiam no relativismo, não estou dizendo que existem múltiplas verdades, mas sim que este equívoco deles, é um equívoco honesto. Eles acreditam verdadeiramente no que estão dizendo - ainda que seja errado. Você possui a Graça de saber o que está se passando, estas pessoas não. Você sabe como reagir, estas pessoas não. Todavia, nem sempre a benevolência é cabível, visto que há situações que ela pode tornar-se condescendência

Silêncio

Essa dica é primordial. Nem tudo o que você pensa precisa ser dito. Nem tudo o que você imagina do outro é verdade - e ainda que o seja, não significa que precisa ser dito.


Temos muito o que aprender sobre este tema, meus caros leitores. Aos poucos, vamos tornando versões melhores de nós mesmos. Primeiro, julgamos a nós mesmos. Quanto ao outro? Nos compadecemos.

#ColunistaOficialAU

 


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