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Relendo "Sandman"

Relendo "Sandman"
João Vitor Muniz Buarque
Sep. 18 - 6 min read
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Obs.: A seguinte análise contém spoilers da obra.

Neil Gaiman recentemente comentou sobre a adaptação da Netflix de “Sandman”. Ele basicamente disse que a série se passará nos dias atuais, em vez dos anos 90. Ele auxiliará na produção, assim como em “American Gods” ou “Coraline”.

Mas o que é “Sandman”? Quem começa a ler quadrinhos uma hora topa-se com essa obra. Foi a mesma coisa comigo. Na minha adolescência, no meio de várias mensais da Marvel que eu acompanhava, como os X-Men ou do Spidey, eu topei com Neil Gaiman. Não foi preciso muito tempo, na verdade nas primeiras edições lidas na edição definitiva vol. 1 da Panini, eu já havia comprado todas as outras três edições que estavam disponíveis no mercado. Eu achei com uma tranquila facilidade, talvez por não saber da dificuldade que era essa empreitada na época (foi a mesma coisa com meu Pop Funko da Beatrix Kiddo, a noiva de “Kill Bill”).

Mas voltando à pergunta: “Sandman”, em poucas palavras, conta as aventuras e situações do próprio Sandman, dito como Morfeus, Sonho, entre outros nomes, reconciliando-se com seu passado, resolvendo pontas soltas e “resolvendo pepinos” que ocorreram durante seu ausento (explicarei isso mais tarde).

Para começar tudo, tenho explicar quem é (ou o que é) Morfeus. Ele é um Perpétuo. Mas o que é um Perpétuo? Não é um deus, mas sim uma entidade. Não cósmica, como Galactus ou a Fênix, mas atemporal. Ele não é o “deus dos sonhos”, ele é o próprio sonho; o ato de sonhar. Uma representação antropomórfica vista por nós, humanos. Mas visto de outras maneiras por outros seres, como quando o mesmo se apresenta ao Caçador de Marte (sim, “Sandman” faz parte do universo compartilhado da DC Comics), que o vê como um deus marciano. Ou na edição “O sonho de mil gatos”, onde uma gata parte em uma busca onírica por conhecimento, e Morfeus aparece a ela como um felino.

Morfeu, como entidade, tem seis irmãos. Destino, que “nasceu” quando o primeiro ser (quando sigo “ser”, digo qualquer coisa, pois como visto em uma história paralela, tudo no Universo é vivo; estrelas, planetas…) nasceu; Morte, que veio a existir quando o primeiro ser surgiu, mas mesmo assim após Destino, pois, para um ser vivo morrer, ele precisa nascer; Sonho nasceu quando a primeira criatura sonhou; depois veio Destruição, depois Desejo (sem sexo definido) e Desespero, que são gêmeas, e por fim, Delírio (antes Deleite).

Todos são o que seus nomes levam. Destruição é a própria destruição, por exemplo, e controla isso no universo, mas há um porém nisso, que não direi agora; direi quando quando eu for falar da edição em que trata do assunto.

Uma curiosidade: Todos os Perpétuos, em inglês, tem o nome começando com “D”. Por isso, em português, Morte e Sonho também podem ser chamados de “Desencarnação” e “Devaneio”. 

 "Sandman”, como eu disse, é sobre Morfeu, que leva esse nome pois na mitologia romana, ele era tal deus para nós: o deus dos sonhos. E Morfeu foi aprisionado, em um ritual que era para a sua irmã Morte. Nesse tempo, que para um ser que está na ativa desde os princípios do Universo, não é nada; mas mesmo assim isso o mudou. Tanto que ele ajuda amores do passado que ele mesmo prejudicou, como por exemplo, nessa edição, uma ninfa, que era escrava sexual de um escritor, onde ela lhe dava inspiração durante a relação.

Quando Sonho enfim se liberta; Ele faz um de seus raptores, o aind avivo, sofrer do “eterno despertar”, onde o mesmo sempre acorda de um pesadelo, seguido de outro pesadelo, enquanto nunca desperta. Sonho também volta ao seu reino: o Sonhar. Lá, um lugar que outrora fora bela e onírico, agora está em ruínas. E ele deve reconstruí-lo e ir atrás de suas posses que lhe foram roubadas: seu elmo, sua algibeira e seu rubi. Nisso, ele encontra desde o Constatine (sim, o mesmo personagem fumante e criado por Alan Moore) e vai até ao Inferno; lá, ele entra em um confronto com um demônio, e não direi no que consiste esse embate, só direi o seguinte para despertar a curiosidade: Sonho vence a batalha com apenas uma frase: “Eu sou a esperança”. De dar arrepios, não? 

Quanto à arte, “Sandman” vai totalmente ao caminho oposto do que a época de 90 apresentava. Entre heróis bombados e heroínas seminuas, Neil Gaiman nos apresenta o contrário. Todavia, se os heróis tradicionais eram exagerados, “Sandman” também nos apresenta, pelo menos na maior parte das edições de pelo menos dessa edição, traços exagerados, muitas vezes ditos como feios, ou desprovidos de beleza. Mas resta escolher entre os desenhos com músculos exagerados ou os de expressões exageradas. 

E embora o personagem título da famosa série "Lúcifer" tenha surgido no quadrinho de Gaiman, provavelmente não se misturará os universos. Embora não nego que seria incrível isso!

 “Sandman” é uma obra prima. E não há o que questionar. Costumo dizer que para muitas coisas as pessoas tem medo de criticar, mas esse não é um desses casos, essa hq é tudo que se pode pedir de uma hq, mesmo com algumas edições (muitas vezes quadros, isolados em uma edição) com ilustrações de se estranhar: uma história em quadrinhos profunda, com várias reflexões e enigmas, que faz você querer ler cada vez mais.

Só nos resta agradecer a Neil Gaiman.


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