Estamos vivendo difíceis, não só pela pandemia em si, mas pelos efeitos perturbadores que ela vem ocasionando. As taxas de desemprego batem recordes, aumenta o número de jovens em depressão, a desesperança toma conta da vida de algumas pessoas.
Para os líderes, mais do que nunca, o cenário atual traz um desafio enorme: em algumas empresas, os colaboradores não só se preocupam em manter os seus empregos, mas questionam o próprio sentido de suas vidas (e carreiras) e de fato, o “por quê” de estarem trabalhando onde trabalham. Como descobrir o seu propósito e o propósito do seu time?
Uma pesquisa estatística, com dados de 7.948 alunos, em 48 universidades, foi conduzida por cientistas sociais da Universidade John Hopkins. Perguntados sobre o que consideravam como “muito importante” para eles naquele momento, 16% dos estudantes responderam “ganhar muito dinheiro”, 78% afirmaram que o seu principal objetivo era “encontrar um propósito e sentido para minha vida”.
O propósito é como uma senha bancária: pessoal e intransferível. É exclusivo e específico, uma vez que precisa e só pode ser cumprido somente por aquela determinada pessoa. Também sempre se modifica, mas jamais deixa de existir. É somente através do propósito que chegaremos ao sentimento de realização.
A Realização por sua vez, não é uma outra maneira de dizer felicidade. Muitas coisas podem nos deixar felizes no trabalho: atingir uma meta, ser promovido, conquistar um novo cliente, concluir um projeto – a lista é longa. Mas a felicidade é temporária; a sensação não dura. Ninguém anda por aí animado pela memória de uma meta atingida 12 meses atrás. A intensidade passa com o tempo.
A realização é mais profunda. É mais duradoura. A realização vem quando nosso trabalho se conecta diretamente com o nosso PORQUÊ. E é por isso que não temos um PORQUÊ profissional e um PORQUÊ pessoal. Somos quem somos em qualquer lugar.
Sobre esse tema, eu destaco dois livros fundamentais: “Em busca de sentido”, de Vicktor Frankl e “Encontre seu PORQUÊ”, de Simon Sinek.
Viktor Frankl foi professor e fundador da Logoterapia. Frankl tem propriedade para falar sobre propósito: em seu livro “Em busca de sentido”, ele descreve a sua experiência que o levou à descoberta da logoterapia. Prisioneiro durante longo tempo em campos de concentração, perdeu o pai, a mãe, o irmão e a esposa. Todos em campos de concentração ou em crematórios. Como encarar a vida como algo que valia a pena preservar? Para Frankl, encontrando um sentido, ou um propósito para a vida. No caso dele, terminar o manuscrito que ele iniciara em Auschwitz.
Na logoterapia: o termo “logos” é uma palavra grega e significa “sentido”. A logoterapia, ou como tem sido chamada por alguns autores, “A Terceira Escola Vienense de Psicoterapia”, concentra-se no sentido da existência humana.
De acordo com a logoterapia, podemos descobrir esse sentido na vida de três diferentes formas:
- Criando um trabalho ou praticando um ato;
- Experimentando algo ou encontrando alguém;
- Pela atitude que tomamos em relação ao sofrimento inevitável (e aqui, grifa-se o inevitável, pois sofrer sobre o que se pode evitar, é masoquismo.
Frankl conseguiu driblar não só todo o sofrimento, a fome e as perdas a que foi submetido, mas segundo ele, conseguiu passar por alguns estágios no campo de concentração, como por exemplo o de “apatia e a insensibilidade emocional, onde já não se tenta simplesmente ignorar uma cena próxima de agressão ou assassinato. Indiferente e insensível, fica observando sem se perturbar. É um mecanismo de autoproteção da psique. Reduz-se a percepção de realidade”. Incrível como nos tempos atuais nos pegamos apáticos e extremamente insensíveis, não acham?
Ainda no livro, o autor diz que “precisamos aprender, e também ensinar às pessoas em desespero que jamais importa o que nós ainda temos que esperar da vida, mas sim exclusivamente o que vida espera de nós”.
Outro livro super inspirador é “Encontre seu Porque”, de Simon Sinek. Sinek se tornou mundialmente conhecido ao popularizar o conceito do Círculo Dourado em sua primeira palestra no TED, em 2009. Segundo a teoria, todas as pessoas sabem bem o quê elas fazem, algumas pessoas e empresas sabem como, mas apenas uma pequena quantidade sabe bem o porquê.
Em “Encontre seu Porque”, Sinek continua desdobrando sobre o Círculo Dourado, só que agora ele oferece um guia de como o líder e sua equipe podem descobrir seus propósitos. É um exercício fundamental. E ele pode ser escrito numa frase. Sim, é só isso. Não precisa de 15 parágrafos. Basta uma frase. Em uma frase, é mais difícil fazer rodeios, se esquivar ou se livrar de jargões obscuros. Uma frase costuma ser mais sincera e se você conseguir encaixar o seu PORQUÊ em uma frase, estará muito mais propenso a lembrar e agir em função dele.
Esses dois livros me fizeram refletir sobre o sucesso, de forma que acredito realmente que não devemos procurar o sucesso. O sucesso, assim como a felicidade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só tem lugar como efeito colateral de uma dedicação pessoal a uma causa maior do que a pessoa.
E a verdade é que, dadas as circunstâncias corretas, tendo apenas sonhos, determinação e liberdade para tentar, pessoas comuns fazem constantemente coisas extraordinárias. Um líder forte, mesmo que não seja o fundador, tem o poder de dar um senso de propósito a uma empresa cujo PORQUÊ esteja faltando. Um pequeno grupo de funcionários inspirados e dedicados pode ter um impacto positivo na organização como um todo.
E você saberia dizer qual é o seu propósito ou o seu PORQUÊ? Compartilho aqui o meu com vocês:
“Ser um pai, marido, filho, amigo e colega de trabalho admirado em função dos meus exemplos, de minha história e de meus valores, transformando ou ajudando a transformar a vida dessas pessoas positivamente”.
Se você curtiu esse artigo e quer saber um pouco mais sobre propósito, recomendo você escutar o podcast dessa semana do Caos Corporativo, da Escola do Caos. O tema é exatamente “Papo de Propósito”. Vai lá no Spotfy!
“Quem tem por que viver aguenta quase todo como”. (Nietzsche)