“Slow blogging é uma rejeição ao imediatismo. É uma afirmação de que nem todo conteúdo que merece ser lido foi escrito rapidamente” — Todd Sieling, em Slow Blog Manifesto
A nem-tão-nova-assim filosofia de produção de conteúdo chamada slow blogging busca sustentabilidade e qualidade ao invés de rapidez e quantidade.
Por que, porém, esse movimento surgiu? Qual é o problema do “fast blogging” e qual a necessidade de aderir ao slow?
Bem, a resposta é um tanto simples e bastante lógica.
Muitos blogs postam diariamente ou até mesmo várias vezes em um único dia. The Huffington Post e Buzzfeed, por exemplo, podem produzir mais de 300 posts diários, o que não dá tempo ou espaço para seus leitores realmente digerirem o conteúdo.
Nesses sites, leitores vem e vão enquanto anunciantes assinam contratos alegremente.
Porém, enquanto uma quantidade inumana de posts pode dar maior retorno financeiro, qual a credibilidade e a qualidade de quem posta compulsivamente?
Há quem deseja ser reconhecido e lembrado por algo verdadeiramente bom ao invés lido várias vezes por um conteúdo mediano. O dilema “qualidade versus quantidade” é o principal.
E assim surgiu o slow blogging, que preza por valorizar o processo de produção e o conteúdo final.
Colocar em prática tal metodologia significa apreciar o momento de criação. Ao invés de encarar como obrigatoriedade, o slow blogging incentiva a elaboração de conteúdos quando há vontade e interesse, em oposição ao que é criado para preencher espaço.
Por conta da abordagem respeitosa ao processo de produção, o resultado final possui mais qualidade. Produzir com apreço e curiosidade, sem pôr-se como inimigo do relógio, resulta em obras mais aprofundadas — pois há tempo de ler, pesquisar, estudar, organizar as ideias, escrever, revisar, repensar... e o conteúdo acaba por ser superior ao que se faz às pressas, sob pressão e de maneira rasa.
Outro ponto imprescindível para a filosofia de slow blogging é o porquê.
Qual o objetivo que se tem ao postar algo? Quem são as pessoas que você quer alcançar?
Ao falarmos de fast blogging, lidamos com postagens que buscam números e engajamentos. Porém, a conduta slow é diferente: almeja-se criar com propósito e valor, saber o porquê de se estar postando, desejar o alcance pessoas que compartilham de ideias semelhantes, levantar questionamentos, ser reconhecido por algo criado com carinho, no qual investiu-se tempo, que é bom para ambos criador e consumidor, feito com atenção e do qual orgulha-se.
Além de ter o nível do conteúdo aumentado quando se deixa de produzir “para inglês ver” e se passa a criar apenas quando possui inspiração, há outras vantagens na aderência ao slow blogging.
Primeiro que há o respeito aos seus seguidores/leitores. É frustrante quando seguimos alguém que posta tanto que fica difícil, senão impossível, de acompanhar. Se você espaçar suas postagens, quem te acompanha terá a chance de verdadeiramente aproveitar cada conteúdo.
Não pode-se deixar de lado, também, a criação de arquivo. Quando você produz postagens de alta qualidade, seu conteúdo se mantém vivo. Bons posts atraem leitores semanas, meses e até anos depois de publicados. Com produto de qualidade, seus arquivos se tornam atemporais — o ativo mais poderoso.
Além do mais, as visualizações também podem ser otimizadas ao produzir com excelência, pois os que te seguem tendem a querer naturalmente compartilhar seu post com os outros.
Contudo, nos dias de hoje, não basta “apenas” um bom conteúdo para crescer nas plataformas. Infelizmente, há outros fatores que podem atrapalhar a fidelização de consumidores nas mídias sociais.
Um exemplo de produtor de conteúdo de excelência que não possui tanto reconhecimento é o Ludoviajante. Postando uma vez por mês (ora mais, ora menos) no YouTube, seus vídeos possuem informações técnicas, estudo aprofundado, roteiro bem trabalhado, texto impecável e edição excepcional. Porém, raros são os vídeos que passam das 400 mil visualizações.
Por quê? Bem, pode ser o funcionamento ineficiente do algoritmo da plataforma, pode ser falta de divulgação própria para o público alvo, pode ser equívoco de target, pode ser falta de engajamento por parte dos que o acompanham... As possibilidades de resposta para o porquê de um bom conteúdo não alcançar o topo das paradas são inúmeras e cada caso requer um diagnóstico próprio.
Assim, em conjunto à produção de alta qualidade, pode ser necessário o suporte de profissionais da comunicação para entender e potencializar o alcance do público alvo.
Uma indagação levantada recorrentemente sobre o slow blogging é: “Ok, muito bonito, muito legal. Mas eu preciso produzir conteúdo freneticamente por causa do meu trabalho. Como que eu vou aderir à filosofia slow?”
Nesses casos, a filosofia slow pode ser unida à outros metodologias que prezam por respeito ao processo.
Pensemos, portanto, no procedimento de arrumação KonMari, da japonesa Marie Kondo.
Enquanto o slow blogging lida com postar e divulgar apenas aquilo que você faz com carinho e leveza, o KonMari parte do princípio de deixar em sua vida apenas aquilo que te traz alegria.
Assim, pode-se fazer um paralelo entre o que somos obrigados a postar — mesmo que sem aprofundamento e zelo — e os objetos que necessitamos manter — mesmo que sem nos trazer alegria.
Sobre o KonMari, já sabemos a solução para esses itens.
Logo, aplicando a fala de Mari ao slow blogging, a resposta para situações de produzir sob pressão e por necessidade é encarar o processo com outros olhos.
Ao invés de passar pela produção pensando no desgaste e desejando possuir mais tempo, sempre insatisfeito, pode-se tentar pensar no objetivo final, no resultado. Criar — mesmo que sem alegria imediata — pensando que, bem, essa criação trará seu salário, cumprirá com o prazo de entrega e será uma tarefa concluída.
Ou seja, o slow blogging nada mais é que a criação sustentável de conteúdo. Algo que seja saudável para quem produz, buscando — sempre que possível — o melhor nível de entrega para os consumidores, com zelo ao tempo pessoal e respeitando.
Por fim, não é sobre produzir menos, é sobre produzir melhor.
Não é sobre não se importar com prazos, é sobre não se desrespeitar para cumpri-los.
Não é regra, é adaptação.
Por mais que nada indique com certeza que slow blogging seja a melhor estratégia de produção de conteúdo, é a que se mostra ser mais saudável e sustentável.