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Real ou encenação, o fascínio pelos Reality Shows

Real ou encenação, o fascínio pelos Reality Shows
Mariana Martins
Sep. 22 - 4 min read
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No Brasil, desde os anos 2000 os reality shows rendem bastante audiência, principalmente após a estreia do Big Brother. Frequentemente a veracidade dos acontecimentos e até mesmo o resultado dos programas competitivos são questionados, mas mesmo com essa suspeita de encenação e manipulação, os espectadores não abandonam as transmissões. A questão é: por que ficamos tão presos ao conteúdo (às vezes superficial) se imaginamos que pode ser tudo armado?

No sétimo episódio da série Euphoria, Rue, personagem principal interpretada por Zendaya, passa dois dias, trancada em seu quarto, depressiva, assistindo 22 horas do reality Love Island. Sua narração diz que os reality shows são diversão pura que não requer esforço, são engraçados, dramáticos e fáceis de se concentrar. Muitas pessoas recorrem a esse tipo de entretenimento justamente por serem fáceis de assimilar; diferente de algum filme ou seriado, muitas vezes os reality shows não apresentam questionamentos “pesados” ou metáforas que provoquem muita reflexão.

Existem tipos de reality shows facilmente identificados pelos que mais fazem sucesso no Brasil, são eles: os de competição (como RuPaul's Drag Race e Masterchef); transformação, que supõem alguma diferença entre antes e depois (como Too Hot to Handle, da Netflix); confinamento, um dos que mais geram conflito devido ao ambiente (como De Férias com Ex, da MTV); e ainda, os que acompanham um evento ou lifestyle (como Keeping Up with the Kardashians e Soltos em Floripa do Prime Video). Realitys como BBB e A Fazenda fazem tanto sucesso por possuírem um pouco das características de cada tipo.

No livro Mitologias, Barthes disserta sobre o que ele chama de “mundo do catch”, um fenômeno analisado a partir dos espetáculos de luta livre que mesclam combate e encenação teatral, ou seja, um esporte falseado onde a encenação exagerada é vendida. A diferença do catch pro boxe, por exemplo, é que o espectador se interessa mais pela imagem momentânea e o lutador não tem função de ganhar, mas de executar os gestos que se esperam dele.

Os espectadores de reality shows, da mesma forma, se interessam pela representação instantânea, já que programas não competitivos, como o De Férias com Ex que simplesmente retrata o convívio e os desentendimentos a cada chegada de um novo participante é um dos mais repercutidos na internet hoje em dia. A cada ex que sai da praia é criada uma expectativa de que vá acontecer alguma confusão na casa, quando esses personagens entregam exatamente o que o público espera, o programa faz sucesso.

Da mesma forma, os reality shows de lifestyle não possuem muito bem um objetivo claro como os de competição, mas são muito consumidos. Keeping Up With the Kardashians foi ao ar durante 14 anos mostrando o que acontece na vida da família Kardashian; além de terem consolidado a atenção do público por serem uma das famílias mais famosas do mundo, o conteúdo era fácil de consumir, e poderia até render algumas risadas enquanto pode o assistir fazendo outras tarefas.

Se existe uma fórmula do sucesso, pode-se dizer que os programas estruturados como o BBB a seguem. Ao unir a competição que por si só movimenta os interesses do jogo, ao confinamento que pode facilmente estimular conflito, o espectador se depara com uma coleção de acontecimentos momentâneos que o entretém e não exige muito esforço para assimilação. Sendo assim, independente dos resultados ou se o que é visto é real ou encenação, esse tipo de programa conquista o público pelo fácil acesso ao entretenimento instantâneo. É quase certo rir, se chocar e ter assunto pra comentar na roda de amigos após assistir um reality show, e muitas vezes, é esse sentimento que as pessoas buscam para, por um instante, se esquecer outros assuntos que exigem muito delas.


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