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Olhos d' água: Um livro que todos deveriam ler.

Olhos d' água: Um livro que todos deveriam ler.
Luma Macedo Buchbinder
Aug. 13 - 3 min read
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"Um verdadeiro retrato da realidade brasileira". Este é o argumento que utilizei ao analisar o livro brasileiro "Olhos d' Água", composto por quinze contos, cujo enredo apresenta situações do cotidiano da comunidade negra brasileira. Escrito por Conceição Evaristo, uma das mais importantes representantes da literatura negra, este livro possui todos os requisitos para trazer-lhe uma experiência única de leitura; uma verdadeira reflexão acerca dos moldes ainda existentes na nossa sociedade. 

Apresentando-nos personagens complexos e repletos de dilemas pessoais, cujas motivações se encontram, de alguma forma, relacionados à violência contínua e as consequências da Escravidão, este livro constitui-se de uma carga emocional consideravelmente bruta para o leitor. Este sentimento, no entanto, torna-se um pouco contraditório se considerarmos que, Conceição Evaristo, apenas executa a responsabilidade de mostrar a realidade da comunidade negra brasileira, assim como as injustas consequências da herança patriarcal e preconceituosa que estes carregam em suas costas – como correntes do novo tempo. 

Repleto de importância, o livro “Olhos d’ água” precisa ser lido por todos, uma vez que constitui papel fundamental para causar uma ruptura no pensamento do leitor, ocasionando, consequentemente, em um corte "epistemológico racional" quanto as atuais desigualdades e injustiças que este negligenciava, bem como os possíveis privilégios que este pode – ou não – possuir. Deve-se salientar que, por mais que conteúdos como violência, estupro, morte, tiroteios, miséria, apareçam na narrativa de “Olhos d’ água”, torna-se, mais do que necessário, salientar o belo último conto do livro em questão, em que, uma comunidade em meio a desgraça, observa, no nascimento da criança denominada Ayoluwa – que, na cultura iorubá, significa “alegria” – a esperança retornar ao povo.

Talvez seja esse o fator mais impressionante do livro: Todos os contos  possuem elementos a serem objetos de reflexão. Fatores como maternidade em momentos de crise e sua negação; a violência doméstica causada pelo cônjuge e o amor por pessoas do mesmo sexo; o direito da mulher a diversos amores, entre os demais temas abordados, caracterizam a diversidade narrativa de Conceição, uma vez que, a escritora, apresenta a realidade da comunidade negra tão diversificada e,  extremamente rica por tal. 

Por fim, “Olhos d’ água” é um livro reflexivo. Apresentando-nos a realidade da comunidade negra, Conceição guia-nos em um contínuo de choques abruptos, cada vez mais intensos. Sua escrita, carregada de suavidade ao narrar ambientes e ações caóticas, simbolizam e eternizam a luta daqueles que se foram, bem como encorajam, por meio da perseverança e esperança no amanhã, a continuidade da luta. Voltando a citar o último conto do livro, a escritora, graciosamente, lembra-nos da importância de viver, de persistir, trazendo Ayoluwa, isto é, “alegria”, como um símbolo da mudança de que o mundo precisa. 

“Ficamos plenos de esperança, mas não cegos diante de todas as nossas dificuldades. Sabíamos que tínhamos várias questões a enfrentar. A maior era a nossa dificuldade interior de acreditar novamente no valor da vida... Mas sempre inventamos a nossa sobrevivência. Entre nós, ainda estava a experiente Omolara, a que havia nascido no tempo certo. Parteira que repetia com sucesso a história de seu próprio nascimento, Omolara havia se recusado a se deixar morrer.” (Pg. 70)


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