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O Saber dos Antigos - A origem das doenças contemporâneas (Giovanni Reale)

O Saber dos Antigos - A origem das doenças contemporâneas (Giovanni Reale)
Lucas Costa Souza
Sep. 22 - 5 min read
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Escrito por Giovanni Reale, O Saber dos Antigos: Terapia para os tempos atuais contempla um diagnóstico das principais raízes dos males da modernidade. Para Giovanni, a sociedade está doente, e a origem desta doença reside no niilismo.


Olá, meus amigos!

Hoje eu trago para vocês a resenha deste clássico, O Saber dos Antigos, do gigante Giovanni Reale, professor de História da Filosofia Antiga na Universidade Católica de Milão. Reale ficou conhecido por trazer uma nova interpretação de Platão baseado na tradição oral, sabendo que a maior parte dos ensinamentos de Platão estava em suas aulas, não necessariamente em seus textos (daí originam as chamadas Doutrinas Não Escritas), sendo assim tido por muitos como um dos maiores conhecedores de Platão da história.

Já no prólogo, Reale traz um comparativo entre os clássicos da literatura distópica, Admirável Mundo Novo e 1984. O professor afirma que os dois livros acertaram em suas previsões a respeito do futuro, mas em medidas diferentes. Em 1984, Reale ressalta como foi interpretado o controle da sociedade através de um governo central, utilizando um poder centralizado (de cima para baixo), em contrapartida, em Admirável Mundo Novo o que ocorre é uma tensão, isto é, uma confusão generalizada que faz com que as pessoas  desprezam a verdade. Para Giovanni, este segundo nos trás uma realidade muito mais próxima do que a que é apresentada em 1984. Após sua explicação, Giovanni nos trás uma introdução explicando a razão do niilismo ser a raiz de todos os males de hoje.

 

Sobre o niilismo

"Descrevo aquilo que virá: o advento do niilismo (...) A história que estou relatando é a dos dois próximos séculos."
Friedrich Nietzsche

 

O niilismo, pela definição do próprio Nietzsche, pode ser interpretado como a desvalorização total dos valores supremos. Dito de outro modo, seria a relativização de todas as coisas. Neste prólogo, além de Giovanni trazer alguns tópicos da filosofia niilista , por exemplo, a ideia do Super-Homem, Vontade de Potência e tutti-quanti, ele também apresenta a interpretação do niilismo à luz de outros teóricos, como Heidegger (ou seja, não ter um bom conhecimento em Nietzsche, não é desculpa para não ler esta obra. Prometo que está tudo explicado de forma didática). 

 

Reale nos conta que Nietzsche não interpretava o niilismo como um fim, mas sim como um processo transitório para o advento do Super-Homem, o homem a mercê de sua Vontade de Potência. Funciona mais ou menos assim:

  • Imagine que exista um trono, e neste trono há a simbolização de Deus junto com todos os valores supremos.
     
  • O que o niilismo faz é tirar Deus deste trono, mas o trono continua ali. E com o assento vazio, você é capaz de colocar neste lugar outros valores, símbolos, profetas, etc. por este motivo Nietzsche brigou tanto com socialistas, pois via nesta ideologia uma forma para a substituição divina, a qual não poderia ser outra senão sua teoria do Super-Homem.


Giovanni então nos apresenta como este estágio intermediário do niilismo é o que caracteriza o mal-estar de nossa civilização atual. Para isto, ele irá traçar um diagnóstico apontando dez dos principais problemas, e após isto, apresentará o argumento de como os antigos já haviam dado a resposta para esta questão (daí, "O Saber Dos Antigos"). Abaixo você pode visualizar os dez problemas explorados por Reale:

  1. O cientificismo e o redimensionamento da razão do homem em sentido tecnológico;
  2. O ideologismo absolutizado e o esquecimento do ideal verdadeiro;
  3. O praxismo, com sua exaltação da ação pela ação e o esquecimento do ideal da contemplação;
  4. A proclamação do bem-estar material como sucedâneo da felicidade;
  5. A difusão da violência;
  6. A perda do sentido da forma;
  7. A redução do Eros à dimensão do físico e o esquecimento da "escala de amor" platônica (e do verdadeiro amor);
  8. A redução do homem a uma única dimensão e o individualismo levado ao extremo
  9. A perda do sentido do cosmos e da finalidade de todas as coisas;
  10. O materialismo em todas as suas formas e o esquecimento do ser, a ele vinculado;
  11. Epílogo: Duas mensagens de Platão aos homens de todas as épocas (A metáfora da "con-versão" e a "oração do filósofo).

Como é perceptível, é impossível discorrer sobre estes dez (onze, com o epílogo) tópicos, pois cada um deles pode-se facilmente originar um livreto. Espero imensamente que esta introdução tenha aguçado a sua curiosidade e então você mesmo irá por conta própria velejar pela Segunda Navegação de Platão, e se você não pegou a referência, está aí mais um motivo para ler o livro.

Agradeço aqui ao canal do Lucas R. Bello , pois como havia lido este livro há um bom tempo e naquela época o meu estudo era tão eficiente quanto um Homem-Aranha com labirintite, já não me recordava com tanta precisão de alguns tópicos. A resenha dele foi fundamental para retomar o raciocínio.

E também agradeço à comunidade Contra os Acadêmicos por ter me apresentado este volume. 

Giovanni Reale faleceu em 15 de outubro de 2014, aos 84 anos, deixando um legado que perdurará por toda a eternidade.

#ColunistaOficialAU


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