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O Curioso Caso de Genie Wiley

O Curioso Caso de Genie Wiley
Jefferson Felipe A Jesus
May. 8 - 11 min read
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Em 1970 veio a tona um caso chocante, uma criança mantida em cativeiro pelo próprio pai. Esse caso é um caso real, e o objetivo deste texto é trazer uma analise das consequências psíquicas causados por esse cativeiro forçado.
 


Nesse texto irei percorrer por diversas teorias psicológicas para dar um embasamento teórico a analise. Usei a teoria behaviorista de Skinner, teoria de desenvolvimento de Piaget, teoria da linguagem de Chomsky e Emília Ferreiro além de usar a teoria de Vygotsky e a importância do meio. Esse texto é uma adaptação de um trabalho acadêmico, desta forma é uma analise não oficial.

 
Contexto histórico.


Era 4 de novembro de 1970 quando uma assistente social descobriu que Genie Wiley de apenas 14 anos estava sendo mantida em cativeiro pelo seu pai.
Afinal de contas, porque o próprio pai iria manter a filha em cativeiro? Irei, ao decorrer desse texto, responder essa e outras perguntas.  
A pequena Genie estava muito debilitada quando foi encontrada, usava fralda, estava amarrada a uma cadeira além de estar num quartinho sujo e em condições insalubre.
Genie foi criada isolada do mundo e era considerada uma criança selvagem, uma criança que cresceu em total  isolamento, sem contato com outros seres humanos.
O pai de Genie, Clark Gray Wiley, que era esquizofrênico, foi notificado por um médico responsável pelo parto de sua filha sobre um possível diagnóstico médico de transtornos mentais que poderiam vir a ocorrer com a pequena Genie no futuro, o pai levou o diagnostico ao extremo e acabou a isolando ela num quarto.

A Mae de Genie também tinha transtornos mentais e problemas de visão, com isso não tinha força de atuação contra seu marido. Genie era frequentemente espancada quando emitia barulhos, além de ter uma péssima alimentação, fazer suas necessidades físicas ou na fralda ou no quarto onde vivia. 

Quando Genie foi encontrada percebeu-se que a ela não tinha uma boa coordenação motora comuns a crianças da sua idade, também não tinha músculos bem desenvolvidos, tinha comportamentos sexuais desadequados em publico, tinha marcas de agressões em seu corpo, além de emitir poucas palavras como laranja, azul e mãe.

Com todos esses acontecimentos trágicos, Genie despertou a curiosidade de vários médicos,  cientistas e linguistas que viram esse caso como uma oportunidade de estudar o desenvolvimento da  linguagem e do comportamento humano, pois foi considerado um caso raríssimo. 

Genie foi acompanhada por especialistas de vários países. Um especialista em  isolamento social, declarou que Genie era o caso mais grave que ele havia visto, disse que  confinamento solitário é a punição mais severa e diabólica. Sintomas dramáticos em curtos tempos,  minutos, em horas e dias e tentar estimar um tempo de 10 anos seria difícil. 

Ao coletar informações sobre suas ondas cerebrais em um estudo do sono foi detectado um  perfil anormal de ondas, esse estudo trouxe a equipe uma questão que duraria por anos, o  cérebro de Genie foi danificado pelos anos de punições, isolamentos, maus tratos, ou ela tinha um  retardamento mental desde seu nascimento? Quando ela era bebê, seu pai decidiu que ela tinha  retardamento e a deixou em isolamento por esse motivo

Para o psicólogo dela o plano era que se Genie se relacionasse ela melhoraria suas habilidades sociais, porém não teve sucesso. 

Um linguista Linnenberg propôs a hipótese do período crítico, que propõe que há um período  particular na vida dos humanos propícios ao aprendizado da linguagem, logo sem estimulo esse período iria passar e as sequelas iriam ser irreversíveis.

Ao longo do tempo vários cientistas estudaram Genie, notou-se então avanços em seu desenvolvimento mental e psicológico geral. Em poucos meses, ela desenvolveu habilidades de comunicação não  verbal e gradualmente aprendeu algumas habilidades sociais básicas, mas mesmo no final do estudo  do caso, ela ainda exibia muitos traços comportamentais característicos de uma pessoa não  socializada. Ela também continuou a aprender e usar novas habilidades linguísticas ao longo do  tempo em que a testaram, mas, no final das contas, permaneceu incapaz de adquirir um primeiro  idioma por completo.

 É perceptível o prejuízo e retardo no desenvolvimento da pequena Genie, interessante pensar  também no ciclo social dela, o pai esquizofrênico, a mãe com problemas psicológicos enfim, isso  remete para a importância do meio social na construção do sujeito que no caso de uma criança, a princípio, é a própria família, por conta disso podemos afirmar que o prejuízo social da Genie já  estava instalado em sua família antes mesmo de seu nascimento. 

 Nas teorias de desenvolvimento Piagetiana vimos que o sujeito aprende a se adaptar ao meio em que vive, deste modo os comportamentos da Genie mesmo após o fim do cárcere são explicáveis  na teoria, pois, essa era a forma que a mesma tinha para se adaptar ao meio em que Vivia.  Ainda na teoria Piagetiana podemos citar o conhecimento moral, que em Genie, era  extremamente peculiar e diferente como exemplo podemos citar o fato de Genie defecar, ter comportamentos sexuais inapropriados e outras coisas muito íntimas de uma pessoa em  público, sem constrangimento, Piaget não deixa explícito em sua teoria se tem como um sujeito ser  sem moral ou imoral, porém o mesmo enfatiza que o meio é o formador desta moral, nos arriscamos a  dizer que Genie formulou seus próprios princípios morais com base no ambiente hostil e agressivo  em que vivia. Continuando navegando na teoria de Piaget, vimos que a genética não é o suficiente  para a formulação da linguagem completa e nem do desenvolvimento psicomotor, para essa teoria é  crucial a interação com o meio para serem construídas noções de tais ações, o sujeito constrói o  real a partir da ação, logo como Genie foi usurpada de ambientes favoráveis para tais, carrega consigo  prejuízos Mesmo após a vida adulta. 

 Mesmo após a liberdade a Genie talvez nunca consiga recuperar o prejuízo, pois nas fases  específicas onde a maturação genética estava em curso a mesma não foi estimulada a realizar tais  ações. 

 Se tratando da linguagem na teoria de Chomsky a linguagem é algo intrínseco e dentro de cada  ser humano tem um dispositivo de aquisição de linguagem, ou seja, algo comum a todos da nossa  espécie, com isso, começamos a elaborar uma linguagem mínima e vamos construindo conforme  somos estimulados para algo macro, como fazemos com outros idiomas, por exemplo. Isso explica o fato de Genie  conseguir proferir algumas palavras como laranja, azul e mãe mesmo estando isolado, e surpreendentemente, consegue explicar por que a fala da Genie é tão limitada, oras, se Genie precisava de estímulo quando era bebê e não foi estimulada logo, mesmo tendo uma tendência inata  a linguagem é impossível não ter prejuízos. Chomsky acredita que a criança tem a linguagem inata, algo que vai desabrochando conforme o crescimento, no caso Genie iria desabrochar aquilo que já  viria nela, a linguagem para ele é algo genético algo que todo ser humano tem, e é no decorrer do  tempo a criança tendo um contato com o ambiente vai gradualmente ativando aquilo que está guardado desenvolvendo, então, a aquisição da linguagem. Não basta apenas a genética humana. 

Skinner em sua teoria acredita que a criança aprende conforme o ambiente, se ela tem um ambiente favorável, que a estimule, ela irá ter uma boa aquisição da linguagem, a Genie precisaria  de: estímulos (ciclo familiar, meio social), resposta (Responder positivamente ao ambiente) e reforço (Ser recompensada). No caso dela precisaria de um estímulo que é o ambiente podendo ser visual ou auditivo e ela daria uma resposta e se tivesse recebido reforço, sendo estimulada logo daria outras  respostas e assim sucessivamente.
Ela não teve até aos 14 anos a hipótese de ser estimulada ou até  alguém que apresentasse um estímulo positivo para seu desenvolvimento, sendo assim, fica impossível emitir uma resposta.
Na teoria behaviorista, a criança, quando estimulada apresenta respostas e ocorre um possível condicionamento, para Skinner, o ambiente é de extrema  importância. Genie era mantida em um ambiente limitado, presa, sem contato externo, com pouco  estímulo de linguagem, por isso teve sua aquisição de linguagem afetada. 

Ainda falando de linguagem, Emília Ferreiro enfatiza a importância do meio para a construção  dela, Genie, infelizmente foi colocado em um cárcere muito rígido imposto pelo seu pai. Também é  enfatizado a simbologia na criança, como ela sofria forte agressões acabou simbolizando de modo  diferente do habitual o que explica seu comportamento nada trivial. Genie não percorreu cada etapa  da escrita, por exemplo, a pré-silábica, ela não teve a oportunidade de desenvolver suas habilidades e  com isso teve fortes prejuízos na vida adulta que são irreversíveis. 

Genie não pôde se desenvolver cognitivamente quando era criança e nem adolescente, ela não  podia se relacionar socialmente, que para Vygotsky, é de extrema importância, pois a socialização ocorre com processos interpessoais pelo ser humano, e se desenvolve em contato com a sociedade o que para ele é uma interação onde nós modificamos o ambiente e o ambiente nos modifica. Vygotsky, 1896, afirma: “a linguagem necessariamente não depende do som”. 

Com todo o trabalho da equipe, a Genie conseguiu desenvolver um pouco sua linguagem se expressando de forma simples com gestos, uma categoria de linguagem automática, podendo assim dizer porem um pouco sem sentido, mas comparando-lhe do modo como foi encontrada, totalmente negligenciada, foi uma importante evolução, pois ela foi abandonada por 13/14anos, teve um pai violento, que levou um diagnóstico ao extremo e que não soube lidar com a situação, talvez pelo fato dele sofrer de algum transtorno também, além da mãe que também já estava bem debilitada e se submetia a tais situações, talvez por medo e nesse meio tinha a Genie que uma criança indefesa que infelizmente passou por todo esse processo doloroso, triste para um ser humano. 

Genie ainda está viva, em um asilo nos EUA, os estudos e pesquisas foram encerradas por falta de verba e de informações detalhadas.
Seu pai se suicidou quando o caso veio a público.
Não se tem informações do paradeiro de sua mãe.

                                                                   Genie no asilo

Referencias Bibliográfica 

https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722012000200011&lang=pt

https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722008000300022&lang=pt

https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98931994000100007&lang=pt

https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65641997000200005&lang=pt

https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-76322009000200007&lang=pt

https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44501997000300007&lang=pt

 

 

 

 


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