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O Ativismo de Hollywood e o "Capital Solidário"

O Ativismo de Hollywood e o "Capital Solidário"
Camilla Bizarria
Sep. 8 - 6 min read
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A mídia possui um papel muito importante na relação entre o público e a celebridade, sendo responsável por divulgar notícias que moldam e fundamentam a imagem de um artista perante seu público. Com o crescente engajamento da Geração Z (jovens nascidos entre 1990 e 2010) em movimentos sociais, tornou-se comum a admiração por artistas íntegros que apoiem causas sociais e que façam jus ao próprio discurso. Assim, a divulgação e a procura por notícias que relatem atitudes benéficas ou problemáticas de celebridades aumentou consideravelmente nos últimos anos, fazendo com que famosos se posicionem cada vez mais sobre causa sociais, como feminismo, movimento negro e a luta LGBTQI+. Obviamente as celebridades de Hollywood não foram exceção.

A campanha Time's Up surgiu no início de 2018, após o produtor Harvey Weistein ser acusado de assédio e estupro por mais de 50 mulheres que trabalham na indústria cinematográfica. O movimento iniciou-se com a hashtag #MeToo como apoio às vítimas dos abusos, mas foi crescendo e tornou-se uma organização após um abaixo-assinado que teve a assinatura de mais de 300 mulheres que trabalham na área de entretenimento, entre elas está Jennifer Lopez, Cate Blanchett e Angelina Jolie. O Time’s Up tem como pauta a equidade, empoderamento e segurança das mulheres em seus ambientes de trabalho.

Após as denúncias e o abaixo-assinado, Harvey Weistein foi expulso da Academia do Oscar e sua produtora declarou falência depois de ser processado pelo Estado de Nova Iorque por não proteger as funcionárias de assédio e agressão sexual, bloqueando o investimento de mais de 500 milhões de dólares. Dessa forma, o movimento mostrou-se eficiente contra os casos de abusos, incentivando diversas celebridades denunciarem colegas de trabalho e donos de produtoras por assédio e aumentando a lista de nomes de atores, diretores e produtores problemáticos. O ator Kevin Spacey, por exemplo, foi acusado de assédio e foi punido, sendo retirado da série House of Cards e do filme All The Money In The World, mesmo sendo o personagem principal de ambas as obras.

O movimento foi tão popularizado entre as celebridades de Hollywood que, no Globo de Ouro de 2018, o dresscode da premiação foi o uso da cor preta a fim de mostrar solidariedade ao Time’s Up. No tapete vermelho, os artistas foram questionados sobre a campanha e todos demonstraram apoiá-la, inclusive os atores Gary Oldman e Ben Affleck – acusados de violência doméstica e assédio sexual, respectivamente. Além disso, o homenageado da noite foi o ator Kirk Douglas, que possui diversas denúncias de assédio e foi acusado de violentar a atriz dos anos 60 Natalie Wood. Entretanto o ator foi ovacionado e aplaudido de pé pelas celebridades vestidas de preto, tornando duvidosa o posicionamento dos artistas perante a campanha. Apesar disso, o movimento triunfou e ganhou visibilidade na mídia. Assim, muitos artistas se pronunciaram a favor da ação do Time’s Up. Mas algumas destas declarações podem ser consideradas duvidosas e contraditórias, já que muitas celebridades, mesmo condenando os assédios, continuaram a trabalhar com e ovacionar nomes como Roman Polanski, acusado e condenado por pedofilia.

Dessa forma, podemos relacionar o posicionamento de famosos perante a mídia sobre os casos de assédio com a ideia de “Capital Solidário” (CAMPANELLA, 2014). Esse conceito diz respeito ao aumento de visibilidade midiática de celebridades por meio de atitudes solidárias, moldando uma imagem generosa e conquistando o público. Assim, esse capital solidário é revertido em capital econômico a partir do momento em que o novo público começa a consumir os produtos do artista. Atrizes, como Brie Larson, ganharam uma legião de novos fãs após se posicionarem publicamente contra os diretores problemáticos de Hollywood.

“Mesmo que a criação de uma imagem politicamente preocupada com os problemas do mundo reflita sentimentos sinceros de muitas celebridades contemporâneas, o fenômeno também responde a uma demanda de um mercado consumidor. Ou seja, ser um ator ou músico que participa de campanhas midiáticas solidárias pode resultar em benefícios econômicos concretos ao longo de sua carreira, isto é, ele acumula o que denominamos de capital solidário.” (CAMPANELLA, 2014, p.728)

Muitos artistas de Hollywood continuaram a fazer sucesso e bater recordes de bilheterias com seus filmes, mesmo acusados de misoginia e pedofilia, como é, respectivamente, o caso de Quentin Tarantino e Woody Allen. Isso acontece devido ao alto poder aquisitivo e à grande influência que possuem no meio artístico. Além disso, muitos admiradores e fãs negam o boicote, alegando a importância da separação entre obra e artista, o que dificulta a proposta de punição elaborada pelo Time’s Up.

Portanto, a importância do ativismo tem impacto direto nas atitudes de famosos, que se posicionam cada vez mais sobre assuntos socio-políticos e ambientais a fim de ganhar visibilidade midiática e se promover. Surge, então, uma nova relação entre celebridade e público, que passa a se identificar não somente com o produto, mas principalmente com a pessoa que o artista representa. Além disso, conforme as celebridades começam a defender movimentos como o negro, o feminismo e a luta LGBT, as minorias vão conquistando ainda mais espaço na mídia, dando voz àqueles que são marginais na sociedade.


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