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#Musicalizando: Emicida, AmarElo, e as pequenas alegrias da vida adulta

#Musicalizando: Emicida, AmarElo, e as pequenas alegrias da vida adulta
Liliane Carvalho
Feb. 12 - 8 min read
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É nas letras de 'As Pequenas Alegrias da Vida Adulta', uma das músicas do álbum AmarElo (2019) de Emicida, que entendemos o sentimento grandioso do efeito que o documentário trouxe para um ano tão bagunçado como 2020.

'Emicida: AmarElo – É Tudo Pra Ontem' foi lançado em 8 de dezembro de 2020 pela Netflix, com direção de Fred Ouro Preto e produção do músico Evandro Fióti, irmão e sócio do rapper, e é o marco do auge da carreira de Emicida.

No #Musicalizando de hoje vou apresentar para vocês tudo sobre essa história, e os motivos pelo qual você deve ir correndo assistir, e ouvir um álbum tão completo quanto esse. Mas antes de tudo isso, é importante conhecer a mente por trás de projetos tão gigantes.

A história de Emicida

Leandro Roque de Oliveira é cria do Jardim Fontális, zona norte de São Paulo, e nasceu no ano de 1985. É cantor, compositor, produtor musical e desenhista. Seus pais atuavam como organizadores de bailes do bairro, e em 1991, o pai, DJ das festas, morre em uma briga de bar, acontecimento que marcou a família, e principalmente Leandro, que passou a assumir as responsabilidades da casa ainda garoto.

Ele se formou em desenho pela Escola de Arte São Paulo, e dois anos depois chegou a exercer a função, como desenhista e roteirista de quadrinhos, e em paralelo, começa a escrever poesias e letras de rap, e a frequentar as batalhas de rua. Em 2005, ganha o apelido de Emicida, fusão entre as palavras MC e homicida, em uma brincadeira quanto a “assassinar” seus inimigos nas rodas de freestyle. O apelido acabou se tornando o nome artístico que passou a ser a sigla: E.M.I.C.I.D.A (Enquanto Minha Imaginação Compor Insanidades Domino a Arte).

O que deu pontapé inicial, e levou Emicida para além das ruas de São Paulo, foi sua música Triunfo, uma produção caseira que rendeu 300 cópias do single. E esse sucesso o motivou a lançar, em 2009, a mixtape ‘Pra Quem Já Mordeu Um Cachorro Por Comida Até Que Eu Cheguei Longe’, e em sequência, produz o EP ‘Sua Mina Ouve Meu Rep Tamém’. Cria junto com seu irmão e empresário, o Evandro Fióti, a produtora ‘Laboratório Fantasma’, pelo qual lança seus trabalhos e de outros artistas também. O primeiro disco lançado é a mixtape ‘Emicídio’.

Participou de diversos eventos musicais no Brasil e no exterior, como o Coachella, Rock in Rio, entre outros. Em 2011 grava o disco ‘Doozicabra e a Revolução Silenciosa’ em solo americano, na cidade de Nova York, com produção dupla de K-Salaam e Beatnick. Atuou como repórte no programa ‘Manos e Minas’, da Tv Cultura, em 2010, e no ano seguinte apresenta ‘Sangue B’, na MTV.

Em 2013 lança seu primeiro álbum solo gravado em estúdio, ‘O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui’. Em 2015 lança o álbum ‘Sobre crianças, Quadros, Pesadelos, e Lições de casa’, três anos depois (2018) vai para as ruas o ’10 Anos de Triunfo’, e no ano seguinte ‘AmarElo’. No cinema ele participa dos documentários: Disseminando Ideias e Influenciando Pessoas (2010), The Rise of Emicida (2011), O Homem do Saco (2015), e AmarElo - É Tudo Pra Ontem (2020).

Já cantou em shows e gravações com artistas como Rashid, Elza Soares, Martinho da Vila, Wilson das Neves, Criolo, Racionais Mc’s, entre outros diversos nomes. Além disso, Emicida ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Lingua Portuguesa com "AmarElo" em 2020.

É com esse resumo que deixo vocês situados de como Emicida já é há algum tempo um dos rappers mais importantes do cenário musical brasileiro, mas venho dizer também que ele vem se transformando em uma figura central para entender o Brasil, e todo um processo de criação e transformação.

O filme é uma união entre documentário, show gravado, bastidores e uma aula da história não contada, traz narrativas históricas, biografias de figuras que foram apagadas e, principalmente, as faixas de seu disco. Emicida conta uma história muito particular do Brasil e aborda temas essenciais para entender todo o contexto da nossa sociedade.

Motivos para assistir o documentário

1 – A escravidão e o trabalho negro na formação do Brasil

Ao relembrar que o Theatro Municipal de São Paulo, palco do show gravado que é apresentado no filme, foi construído não só por mão de obra negra, mas muitas edificações admiradas pelo Brasil têm a mesma idealização, Emicida reforça a importância do trabalho dos negros que foram escravizados para a formação do Brasil enquanto estrutura, mas principalmente quanto nação, sociedade e país. É uma forma de afirmar e reforçar a identidade negra presente nas raízes do país.

2 – Nomes gigantes ocultados pelo racismo

AmarElo constrói um trabalho importante de resgate de nomes importantes do Brasil que foram silenciados pelo racismo. Ao contar a história de pessoas como Lélia González (1935-1994), ativista em discussões sobre as relações entre gênero e raça, Joaquim Pinto de Oliveira (1721-1811), mais conhecido como Tebas, um dos arquitetos mais importantes do século XVIII em São Paulo, os Oito Batutas, o primeiro grupo de música popular brasileira a conseguir projeção internacional, e Ruth de Souza (1921-2019), atriz histórica do teatro e da televisão, primeira mulher negra a protagonizar uma telenovela, Emicida dá um importante reforço a identidade negra brasileira e de seus nomes fortes.

3 – Gentrificação

Ao contar a história do país, Emicida dá um foco especial para São Paulo e sua região central, antes uma população essencialmente negra foi sendo elitizada, ironicamente por mão de obra, e se descaracterizou, empurrando as pessoas que ali moravam para as periferias (o processo de gentrificação é exatamente isso).

4 – A cultura hip-hop

Tem uma cena interessante para definir esse tópico em que Emicida pergunta ao trapper Jé Santiago, com quem tem uma parceria na música ‘Eminência Parda’, se ele já havia entrado no Theatro Municipal, e quando Jé responde que não, ele diz algo como “aproveita, que agora isso é nosso’. E é esse o espírito da mensagem de confiança que o filme deseja passar as pessoas negras, uma vez que foram afastados de lugares que faz parte de suas raízes, e agora estão prontos para ter essa visibilidade nesses lugares novamente.

5 – A importância do hip-hop e das vozes pretas

O hip-hop surgiu na década de 70 nos EUA, e se espalhou pelo resto do mundo, fazendo com que jovens de lugares periféricos encontrassem uma maneira de se expressar. E em São Paulo a história foi boa, o rap que Racionais apresentou do Capão para o mundo, foi o mesmo rap que influenciou diversos outros jovens como o próprio Emicida, é uma herança passada entre as gerações, que leva a conscientização sobre questões como o racismo e à desigualdade social. “Ele conecta as classes operárias às ideias dos intelectuais pretos brasileiros”, diz Emicida no documentário.

Entre tantos motivos, e visibilidade para lutas desconhecidas, Emicida trouxe um pedaço da história e da importância dos pretos para o Brasil de forma leva e explicativa, é uma aula completa em pouco mais de uma hora, que te prendem do começo ao fim. Apesar de todas as situações que estamos passando, esse documentário é uma luz, em qualquer ano, qualquer lugar e para qualquer pessoa.

E deixo para vocês uma frase do Emicida que tem um significado enorme: “Vencer é muito mais que ter dinheiro. Esses jovens querem reescrever a história desse país“.

Se você chegou até aqui me conta nos comentários se você já conhecia o Emicida, ou até mesmo o documentário. Não se esqueça de curtir e deixar o feedback 😉

Trailer do documentário

Álbum AmarElo

Um beijo e um queijo, e até a próxima <3


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