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Minha história: por que um engenheiro decidiu virar vendedor?

Thiago Henrique Fagundes
Aug. 7 - 10 min read
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Muita gente me questionou quando eu escolhi trocar de carreira para me tornar vendedor. Hoje, depois de tudo que eu consegui não sou mais julgado, mas até pouco tempo muitos me olhavam torto. Eu era um jovem, recém saído da faculdade e trilhando um caminho promissor na engenharia e em uma decisão um pouco maluca, larguei isso para virar vendedor.

Talvez alguns de vocês não saibam, mas eu sou técnico em mecânica e engenheiro mecânico, estudei mais um pouco de Engenharia de Produção – durante um tempo em que trabalhava na indústria e queria entender um pouco mais algumas coisas - e Engenharia Biomédica – durante meu intercâmbio, inclusive adorei a área mas não segui pois aqui no Brasil ainda estamos engatinhando quando se trata de tecnologia.

Mas afinal de contas, o que fez alguém que estava tão dentro desse mundo sair e partir para uma carreira completamente diferente? Vou contar a vocês um pouco da minha história.

Minha mãe já era de idade avançada – hoje ela tem 67 anos - na época, estava muito cansada e com alguns problemas sérios de saúde. No meu último ano de faculdade ela passou pelo terceiro infarto e eu precisei segurar as pontas sozinho, já que não tive contato com meu pai. Ela não terá direito a aposentadoria, por conta de decisões que precisou tomar para me criar e pelas quais sou muito grato.

Se não fossem essas decisões eu nunca teria a chance de estudar em uma universidade pública e fazer meu intercâmbio subsidiado por uma bolsa do governo. Tudo isso aconteceu por ela nunca colocar minha educação em segundo plano, nem nos momentos mais difíceis.

Nós não tínhamos muito dinheiro, inclusive passamos alguns períodos muito restritos, mas mesmo só tendo quarta série e precisando me criar sozinha ela nunca me deixou faltar nada. Eu precisava retribuir tudo isso.

Tudo isso me fez crescer em uma corrida contra o tempo: eu precisava de uma carreira rápida, que me proporcionasse crescer de acordo com meus próprios esforços para que eu pudesse tirar o peso das costas da minha mãe o quanto antes.

Bem antes de me formar eu comecei a procurar muito uma oportunidade de trabalho, eu não tinha a opção de ficar desempregado depois de sair da faculdade. Mas comecei a observar que meus colegas de curso veteranos saíam da faculdade e tinham muita dificuldade em conseguir uma oportunidade de trabalho. Ainda mais por ser um período de crise, o mercado de Engenharia no Brasil estava inundado de desempregados.

Pensando no quê estava levando aquilo a acontecer, percebi que faltavam diferenciais aos que se formavam. Os alunos de engenharia costumavam passar tanto tempo estudando para provas que esqueciam de se envolver com outras atividades que pudessem gerar conhecimentos diferentes. Então, meus últimos dois anos de faculdade foram abraçando toda e qualquer oportunidade de fazer coisas diferentes.

Mesmo assim, quando estava prestes a terminar meu curso, ainda não estava satisfeito com meu currículo. Eu sentia que precisava estagiar em uma grande empresa para viver a experiência do mundo corporativo. Mas infelizmente, a minha cidade (Foz do Iguaçu - PR, uma cidade essencialmente turística) não tinha opções de empresas assim.

Mesmo sem saber muito como, eu estava disposto a dar um jeito. Acabei encontrando uma oportunidade de estágio em uma multinacional líder do seu ramo em Joinville. Era uma gigante, considerada um dos melhores lugares do Brasil para se trabalhar e um sonho para quase todo engenheiro recém formado.

Então resolvi atrasar minha colação de grau e mudar para viver fora de casa, na época com o salário de estagiário e sem ajuda de ninguém. Pedi um dinheiro emprestado com um amigo e fui embora com apenas uma mala.

Tudo deu certo dali para frente. Eu consegui oportunidades, me desenvolvi bem como engenheiro, aprendi muito. Não posso falar absolutamente nada de ruim do lugar que trabalhei. Foi ótimo comigo, foi uma experiência excelente. Consegui também terminar a graduação dando meus jeitos à distância, tudo foi se ajeitando.

Mas quando eu já estava há uns 6 meses trabalhando naquela empresa, percebi que não era aquele o lugar que ia me proporcionar o que eu precisava. Não tinha nada de errado com a empresa, só não era o tipo de carreira que eu queria.

Era uma empresa gigante, muito bem estruturada, com mais de 50 anos de existência e sedes em 6 países. Tudo era muito processual e engessado. Em conversas com engenheiros mais velhos do lugar, eles me disseram que no primeiro ano de empresa eu não teria nem chance de sequer concorrer a uma promoção. Eram as regras.

Além disso, o trabalho em si não me engajava muito. Passar o dia em frente a planilhas, fazendo análises de testes e ajudando em projetos não me brilhava os olhos. Eu sentia um pouco de falta de contato com o cliente final, não via muita relevância do trabalho que eu fazia na vida das pessoas. Pode parecer um clichê chato, mas eu queria sim me sentir ajudando pessoas. Foi por isso que eu tinha escolhido a engenharia.

Foram os próprios engenheiros mais antigos que começaram a me aconselhar a mudar de área. Até hoje não esqueço uma frase que ouvi de um deles:

- Se você quer uma carreira rápida e dinâmica precisa ir para onde o dinheiro está: compras ou vendas.

E foi assim que eu comecei a pensar na possibilidade de mudar de ares. E comecei a pesquisar, obviamente. Foi assim que eu encontrei a oportunidade que procurava.

Me inscrevi em alguns processos e fui chamado para algumas entrevistas na Stone, empresa que trabalho hoje. Fiz o processo todo muito sem compromisso, e isso foi uma das melhores coisas, acho que todo mundo deveria fazer processos seletivos com essa cabeça. Eu não precisava do trabalho, nem sabia se queria o trabalho, então todo o processo foi uma escolha mútua. Eu escolhendo-os e eles me escolhendo.

Durante as entrevistas eu perguntava mais que o entrevistador. Eu precisava saber sobre o produto, sobre o mercado, sobre os concorrentes, sobre o trabalho, tudo que eu pudesse saber. Eu nunca tinha vendido, era um cara bastante tímido e não conhecia muito bem a empresa – que na época era uma startup muito longe do que é hoje.

Eu acabei me identificando muito com os valores da empresa ainda no processo seletivo.

Fui adorando tudo que eu descobria. Não vou falar muito da empresa porque eu tenho até um artigo só falando do meu amor pela companhia, mas isso é material para outro texto. Na realidade poderia escrever um livro intitulado “Por que eu amo a Stone”. Enfim.

Mas mesmo com tudo isso, como o processo todo foi muito informal, eu não percebi o desenvolvimento das conversas. Saindo de uma das entrevistas, me disseram que me dariam o retorno em até 7 dias. 5 minutos depois meu telefone toca com o recrutador dizendo:

- Queremos te contratar, a proposta é...

Aí eu travei o gabinete. Até o momento, eu não tinha verdadeiramente pensado sobre a troca. Envolvia muita coisa. Minha mãe tinha muito orgulho do que eu fazia, eu estudei muitos anos para aquilo, eu não sabia nada sobre vendas, eu era muito tímido e tinha medo de falar com desconhecidos, o salário não era muito diferente, a empresa era praticamente desconhecida, eram muitos fatores.

Eu passei duas horas sem conseguir falar. No fim das contas acabei aceitando. E o resto é história.

Não foi tudo fácil, muito pelo contrário. Minha mãe não aceitou bem, passamos 6 meses sem conversar. A própria carreira em vendas não é fácil, tem pressão, tem rejeição, tem desafio. Vender porta a porta tem sol, chuva, calor, riscos. Mas era isso tudo que eu queria.

Nesses últimos 3 anos foram 4 cidades diferentes, 5 times liderados, 2 escritórios montados, 3 operações iniciadas do zero, muitas conquistas e muita felicidade. Cresci e aprendi muito. Me apaixonei completamente por vendas, pelo cliente – e me vejo realmente mudando a vida de pessoas - e não me imagino em outra área.

A grande ideia desse artigo não é meramente fazer vocês me conhecerem melhor. A ideia é mostrar a importância de se saber o que você quer e porque você quer. Afinal de contas, para quem não sabe onde vai, qualquer caminho serve.

Não estou dizendo que a carreira de engenheiro é ruim ou que pague mal. De maneira nenhuma. Se você quer uma carreira com boa remuneração e mais estabilidade, provavelmente é uma ótima opção para você. Só não era a melhor opção para o que EU precisava.

Muitas pessoas estão em empresas ou carreiras que não necessariamente fazem sentido com aquilo que elas querem para a vida delas, mas nunca sequer pararam para pensar nisso. A comodidade e o medo são uma assassinos de sonhos. Infelizmente isso acontece com a maioria das pessoas.

E você, vendedor, espero que esteja indo no caminho que você realmente deseja. A área de vendas é maravilhosa caso você esteja nela pelos motivos certos.


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