Em um cenário onde uma das pautas do governo é implementar uma nova taxação sobre os livros, é possível analisar o que a própria literatura, sobretudo distópica, tem a dizer sobre a importância da leitura e sua democratização.
Uma distopia é, quase sempre, a retratação de uma sociedade futurista exercida por um governo totalitário, ditatorial e tirânico. Na literatura, esse gênero se tornou bastante popular e conta com diversos clássicos como 1984, Fahrenheit 451, Laranja Mecânica, O Conto da Aia e Admirável Mundo Novo. Alguns deles têm em comum na trama a censura à prática de ler e o desdobramento dessa implementação pode ser notado ao longo da história. Apesar de acontecer nessas obras de ficção, alguns traços podem estar próximos da realidade.
Admirável Mundo Novo (1932)
O clássico de Aldous Huxley apresenta uma sociedade onde os seres humanos são gerados em laboratórios, desde o feto são biologicamente conduzidos e adestrados para cumprir seus papéis no sistema de castas. No Mundo Novo, o governo distribui e incentiva o uso de uma droga chamada SOMA que promove alegria de maneira instantânea, afinal, para que tudo funcione em harmonia, as pessoas precisam estar satisfeitos a todo momento.
Além disso, a literatura, o cinema e a música têm a função apenas de consolidar o espírito de conformismo, entretanto, só para quem tem a possibilidade de consumi-los. Enquanto estão em formação nos laboratórios, os bebês da classe Delta são induzidos a temer e ter repulsa por livros devido a um tratamento de choque, ao tocar neles, de modo a causar traumas psicológicos que os impeça de querer estudar. Isso porque essa é uma classe operária explorada unicamente por trabalho braçal.
“Um Estado totalitário é eficiente quando faz com que uma população de escravos ame sua servidão” - Admirável Mundo Novo
O Conto da Aia (1985)
Margaret Atwood ambienta um Estado teocrático e totalitário onde as mulheres são as principais vítimas. Sem direitos, elas são divididas em classes com funções específicas para cada uma; as poucas mulheres férteis que restaram, após uma série de incidentes como guerras e catástrofes nucleares, são aias, ou seja, pertencem ao governo e existem somente para procriar.
Na República de Gilead, as mulheres são proibidas de ler e escrever. Caso sejam flagradas, têm parte do corpo mutilado como punição; em alguns casos, podem ser agredidas por seus maridos e até mesmo enforcadas em praça pública. Assim como em Admirável Mundo Novo, não é interessante para um sistema ditatorial que uma classe oprimida busque conhecimento e questione sua posição.
É justamente por isso que a democratização da leitura é essencial. Ler não é “coisa de rico” e afastar a população com baixa renda do acesso à literatura, através da taxação, é privá-los desse bem cultural.
“Tudo o que é silenciado clamará para ser ouvido ainda que silenciosamente.” - O Conto da Aia
Dica: Ambas obras citadas acima possuem adaptação cinematográfica, The Handmaid’s Tale está disponível pela Globoplay e Admirável Mundo Novo possui dois filmes e uma série que está disponível na HBO Portugal.
Conte nos comentários quais distopias você já leu/assistiu, Fahrenheit 451 é minha próxima, já sei que também tem tudo a ver com o tema desse artigo!