Comunidade do Estágio
Comunidade do Estágio
Você procura por
  • em Publicações
  • em Grupos
  • em Usuários
VOLTAR

Futebol feminino: desigualdade de gênero e histórico no Brasil

Futebol feminino: desigualdade de gênero e histórico no Brasil
Jeanne Delava
nov. 1 - 7 min de leitura
040

Olá, leitores e leitoras, como vocês estão?

Desde pequena, eu sempre gostei muito do futebol. Me lembro de ficar super empolgada e assistir aos jogos do grêmio quando passava na TV aberta (algo muito raro, por sinal).

Mas as pessoas sempre duvidavam quando eu dizia que gostava do bom e velho futebol. Bom, vocês sabem, não havia muito incentivo para que meninas gostassem do esporte, enquanto os meninos cresciam respirando ele.

Por esse motivo, escolhi falar um pouco sobre o futebol feminino, como ele se desenvolveu em nosso país e desigualdade de gênero.

Vamos nessa??


Os primeiros registros de partidas são da década de 20, que aconteceram em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte.

Porém, era uma prática bem pouco apoiada, pois acreditava-se que somente homens poderiam participar. Alguns anos depois, em 1940, houve jogos no Pacaembu, mas nem de longe foi um sinal de que tempos melhores viriam.

A partida gerou visibilidade e essa, por sua vez, gerou revoltas por parte da sociedade. Em 1941, foi criado o Conselho Nacional de Desportos que ficou sob responsabilidade do Ministério da Educação.

No mesmo ano, um decreto veio para estabelecer que as mulheres não poderiam praticar esportes que não fossem de sua natureza. No documento, o futebol não foi citado, mas ele se encaixava.

Nos anos que se passaram, apesar da proibição, haviam boatos de que as mulheres estavam praticando o esporte. Então, em 1965, uma delibideração proibui especificamente essa modalidade. 

Sim, é isso, mesmo: o futebol feminino foi proibido no Brasil.

Por conta do pensamento de que as mulheres não possuíam a "natureza" do esporte, elas foram impedidas de praticá-lo.

E foi somente 14 anos depois, em 1979, que a lei da proibição foi revogada. Mesmo assim, não havia investimentos ou estímulos de clubes e fedarações. Era algo permitido, mas não havia interesse de torná-lo formal.

Vale a pena lembrar que nessa época, os clubes de futebol masculino já atuavam com jogadores profissionais há muito tempo.

Inclusive, a seleção masculina já havia sido campeã mundial três vezes. Dá pra notar a diferença?

Em 1983, 4 anos depois, a prática foi regulamentada e competições foram permitidas, além de criar calendários e ensinar o esporte nas escolas nas escolas. Os primeiros clubes profissionais femininos foram Radar e Saad.

Em 1988, A FIFA realizou um Mudial de caráter experimental na China, evento que foi o início do desenvolvimento da modalidade ao redor do globo. Contou com 12 seleções e as atletas brasileiras conquistaram o bronze nos pênaltis.

A primeira Copa do Mundo FIFA de Futebol Femino aconteceu em 1991 e a CBF assumiu a seleção feminina, apesar de haver uma quantidade de investimentos de times amadores.

Em 1996, nas Olímpiadas de Atlanta, aconteceu a estreia como modalidade olímpica e o Brasil marcou sua presença, terminando o torneio em quarto lugar.

Alguns anos depois, em 1999, foi Bronze na Copa do Mundo e conseguiu sua primeira medalha FIFA. Em 2003, o Brasil conquistou o ouro no Panamericano realizado em Santo Domingo. 

No ano seguinte, em 2004, foi medalha de ouro nas Olimpíadas da Grécia. 

Em 2007, o Brasil foi campeão do Panamericano do Rio de Janeiro, em julho. No mesmo ano, em setembro,  foi vice-campeão da Copa do Mundo da China .

Em 2008, foi novamente prata nas Olimpíadas de Pequi. Em 2009, aconteceu a primeira Libertadores feminina, na qual o Santos foi o time campeão.

Em 2015, Brasil foi novamente campeão de um Panamericano. Dessa vez, no Canadá.

Não é de se estranhar que a seleção feminina de futebol seja uma das maiores do mundo, com um grande leque de títulos com o passar dos anos.

Além disso, Marta, a maior jogadora da história também é brasileira. Ela foi eleita a melhor do mundo pela FIFA 6 vezes, em 2006, 2007, 2008, 2009, 2010 e 2018. Esse é um recorde não só entre as mulheres, mas também entre os homens.

É inegável que o futebol feminino está ganhando espaço pouco a pouco. 

Em 2017, a Conmenbol determinou que a partir de 2019, todo time masculino que participasse de suas competições deveria ter também um feminino. Atitudes assim são importantes pois abrem espaço para a modalide.

Contudo, não podemos deixar de notar a desigualdade enorme que há entre o futebol feminino e o masculino no que diz respeito à audiência, remuneração e patrocínios.

Para se ter uma ideia, na Copa do Mundo Feminina em 2019, a seleção dos EUA, campeã do torneio, recebeu um prêmio de U$ 4 milhões. Por outro lado, a seleção masculina da França, campeã do mundial de 2018, recebeu U$ 38 milhões pelo título.

Quanto ao prêmio de participação, as 24 seleções femininas dividiram um investimento geral de U$ 34 milhões em 2019, enquanto as seleções masculinas dividiram um montante de U$ 400 milhões em 2018.

Dados como esses nos mostram que além do descaso de clubes de base, pois muitos só passaram a ter uma equipe feminina quando se tornou obrigatório, esse descaso também é percebido nos orgãos que regem a modalidade no mundo.

E como será possível ver mais presença do futebol feminino se não há incentivo para tal?

Ademais, a diferença entre os salários dos principais nomes também é exorbitante. A jogadora mais bem paga do futebol feminino, Ada Hegerberg, ganha 208 vezes menos que o jogador mais bem pago do futebol masculino, Messi.

Além disso, o rendimento de Marta é 267 vezes menor que o de Neymar. O maior nome da história do futebol feminino do Brasil e do mundo não recebe 1% do que o jogador recebe anulmente.

É triste analisar dados como esses e perceber a enome diferença entre as duas modalidades. Mais triste ainda pensar que, a se começar na igualdade de investimentos, poderia haver uma valorização da modalidade feminina e começar uma mudança de décadas.

Pois, muitas vezes, é a valorização que falta.

Algumas pessoas pensam que essa valorização pode ofuscar o futebol masculino, mas não é assim que aconteceria. A pesquisadora Aira Bonfim falou sobre o tema em uma entrevista:

"Uma modalidade independente não é concorrente à masculina. Todo mundo sai ganhando quando a gente pode reconhecer atributos coletivos e individuais em mulheres."

Com certeza há espaço para que o futebol feminino possa aparecer mais sem que o masculino desapareça.

Porém, enquanto houver diferença de investimentos, suporte e da visão que as pessoas possuem sobre cada uma das modalidades, isso não será possível. 


REFERÊNCIAS:

  • KESTELMAN, Amanda. BARLEM, Cintia. TARISSE, Ana. A história do futebol feminino no Brasil. Disponivel em: Globo Esporte.
  • DULCE, Emilly. Futebol feminino surge nos anos 20, é proibido até 79 e enfrenta até hoje o machismo. Disponível em: Brasil de fato.
  • CEOLIN, Monalisa. O que a Copa do Mundo Feminina revelou sobre a desigualdade de gênero? Disponível em: Politize!

Denunciar publicação
    040

    Indicados para você