Quando o quesito é o mundo
acadêmico, profissional e literário, a escrita é uma das habilidades mais valorosas
que deve vir à mente de um indivíduo. Além de ser uma ferramenta poderosa para
o ingresso integral em tais universos, ela pode mover montanhas, porque, ao
contrário do ditado, não só quem fala vai a Roma, mas também quem escreve!
Então, para começar, é importante citar quatro elementos indispensáveis – além do uso correto da gramática portuguesa – que tornam uma escrita, de fato, boa:
1) O uso correto da pontuação é essencial, e pode tornar o texto mais
fluido e interessante.
Sobre este primeiro ponto,
destaca-se o uso da vírgula (,), que, dependendo de onde for ou não colocada,
muda completamente o sentido de uma frase ao mesmo tempo em que evita possíveis
ambiguidades. Ademais, a vírgula pode vir a deixar o corpo do texto menos
maçante, ou seja, mais fácil de ler.
É simples: ela é um instrumento
poderoso e fácil de usar. Assim, é de suma magnitude aprender a usá-la em todas
as suas formas e maneiras para ser capaz de escrever com excelência.
Também se destacam o uso do ponto (.), do ponto de interrogação (?) e de exclamação (!), do ponto e vírgula (;), dos dois pontos (:), do travessão (–) e, evidentemente, dos parênteses, nos quais tenho usado com algum peso no presente parágrafo.
2) Tente variar com o tamanho de cada frase que
compõe um parágrafo.
“Como assim?”, vocês, leitores, devem estar se
perguntando...
Note a dinâmica de leitura deste exemplo:
“Esta frase tem cinco palavras. Aqui estão mais
cinco palavras. Cinco palavras são relativamente ok. Mas várias juntas
tornam-se monótonas. Ouça o que está acontecendo. A escrita está ficando
entediante. O som dela é entediante. É como um disco preso. O ouvido exige
alguma variedade”.
Agora, compare com o seguinte:
“Agora ouça. Eu vario a duração da frase e crio
música. Música. A escrita canta. Tem um ritmo agradável, uma melodia, uma
harmonia. Eu uso frases curtas. E uso sentenças de comprimento médio. E às
vezes, quando tenho certeza de que o leitor está descansado, eu o engajo com
uma frase de comprimento considerável, uma frase que queima com energia e
constrói com todo o ímpeto de um crescendo, o rolar dos tambores, o bater dos
címbalos-sons que dizem ouvir isto, é importante”.
Os dois exemplos foram retirados de uma citação atribuída ao escritor Gary Provost. Este queria demonstrar, justamente, o poder
da variação do tamanho das frases em sua capacidade de criar um texto que
engaje os leitores na leitura.
Os escritores mais experientes sempre tendem a empregar essa técnica em seus trabalhos. Esse é o objeto central que concretiza uma prosa de qualidade. É o que torna um texto bonito. Geralmente, tal técnica é mais usada e visível em histórias de ficção. No entanto, nada impede o uso da técnica em artigos acadêmicos, cartas de motivação, trabalhos da universidade/estágio ou, até mesmo, na medida do possível, no CV. É uma técnica muito útil. Muitas vezes, ela é o diferencial que pode fazer a sua escrita se sobressair às outras. Então, naturalmente, acadêmicos, candidatos a uma vaga de estágio e alunos se sairão melhor do que os demais, se os mesmos tiverem consciência do peso desta técnica sobre a sua escrita, e sobre a avaliação do leitor quanto a ela.
3) Use os
conectivos entre as frases.
Um texto é uma linha lógica de palavras que visam
passar uma ou mais informações, de modo a comunicar para o leitor uma
determinada mensagem. Dito isso, os conectivos de frases podem te ajudar a anexar
frases entre si em uma lógica que faça sentido e que seja fluída, de modo a
tornar o texto mais fácil de ler e de se compreender. Logo, o uso dos
conectivos é muito relevante para uma boa escrita.
Existem vários tipos de conectivos com diferentes significados. Alguns exemplos deles constam como:
- Aqueles que querem exprimir oposição a uma frase dita anteriormente: “porém”, “contudo”, “no entanto”, “não obstante”, “entretanto”, “todavia” etc.
- Aqueles que
almejam expor que algo ocorre em consequência de outra coisa: “uma vez que”,
“em consequência de”, “ao passo que”, “à proporção que”, “na medida em que”
etc.
- Aqueles que
pretendem começar um resumo da ideia comunicada: “em suma”, “em síntese”,
“resumidamente”, “em poucas palavras”, “de forma resumida” etc.
- Aqueles que
objetivam explicar a ideia de forma mais clara: “ou seja”, “em outros termos”,
“em outras palavras”, “isto é” etc.
- Etc.
4) Saiba quando
terminar um parágrafo.
Os parágrafos são um conjunto de frases que
comunicam uma linha racional concisa e com uma ou mais ideias semelhantes.
Dessa maneira, quando se começar a exprimir uma nova ideia, uma inversão de
ideia ou, em muitos casos, a demonstração de uma nova ideia – inclusive, um
exemplo – é melhor haver a criação de um novo parágrafo separado do anterior.
Caso o contrário, o seu texto terá parágrafos muito longos e, por conseguinte, cansativos.
É notório que a escrita pode ser aprimorada com a aplicação dos ditames acima. Porém, erros de escrita podem fazer com que o seu texto piore de qualidade, ou, inclusive, fique confuso. Portanto, segue abaixo os erros de escrita mais comuns que podem lhe prejudicar:
1) Não repita as
mesmas palavras ou conectivos múltiplas vezes.
Este ponto é bem objetivo: quando há a repetição de
algumas palavras em um mesmo texto, sobretudo se a repetição ocorre em um curto
espaço de linhas, o texto perde qualidade.
Exemplo: “João foi à casa de seu amigo ver o jogo do
Flamengo [...]. Então, enquanto ele assistia ao jogo do Flamengo...”.
Note como que “o jogo do Flamengo” se repete nas
duas frases. Deve-se evitar esse tipo de repetição. É evidente como que a frase
ficaria bem melhor se isso fosse substituído por “a partida”, ou por outro
sinônimo do gênero.
Claro, não há problema se a repetição ocorrer depois
de muitas linhas depois, mas quando ela ocorre logo em poucas linhas, na mesma
página – ou pior, no mesmo parágrafo – o texto começa a ficar feio e fatigante,
e, tendo em mente que o objetivo máximo do escritor, além de passar uma
informação, é capturar a atenção do leitor, a última coisa que se queira fazer
é deixar o texto entediante.
O mesmo acontece para conectivos de frase. Segue o
exemplo: “Porém, ele não estava gostando do que via, pois o seu time estava
perdendo [...]. Porém, o Flamengo virou o jogo no último minuto do segundo
tempo, e ele ficou em êxtase”.
Obviamente, houve a repetição do conectivo “porém”,
que poderia ser facilmente substituído por um sinônimo, como “entretanto”.
A dica é substituir palavras repetidas por sinônimos. Eu recomendaria a mobilização de ferramentas como o site “Sinônimos.com.br”, no qual testemunhei ser utilizado em larga escala por muitos dos meus colegas na faculdade.
2) Não abuse do
gerúndio.
Este ponto é muito semelhante ao de cima, pois segue
o mesmo raciocínio.
O gerúndio, para quem não se lembra das aulas de
português no colégio, é a forma de um verbo que indica continuidade de uma ação
(exemplos: andando, conversando, vendo, escrevendo etc.).
Ele é muito comum, e não há problemas se for usado
na escrita, embora às vezes possa ser classificado como um componente da
linguagem informal de escrita.
Contudo, caso ele seja usado consecutivas vezes, o
texto perde a sua beleza.
Exemplo: “o asteroide colidiu com a Terra, obrigando
todos os seres humanos a viverem no espaço, estabelecendo uma nova era para a
humanidade”.
Dado esse exemplo, vem a questão: por que eu separei
este ponto (não abusar dos gerúndios) do anterior (não repetir
palavras/conectivos), se eles são tão parecidos assim? Em poucas palavras, é
porque não necessariamente o gerúndio sempre pode ser substituído por
sinônimos, isto é, por palavras que têm o mesmo significado, mas sim por jeitos
(e não por termos) diferentes de expressar uma mesma coisa.
Veja a reescrita daquele exemplo: “o asteroide
colidiu com a Terra, de forma a obrigar todos os seres humanos a viverem no
espaço, o que estabeleceu uma nova era para a humanidade”.
Em suma, o gerúndio pode ser substituído por formas como “de forma a” e “de modo a”, por “o que” e “o que fez com que”, e até mesmo pelo formato infinitivo dos verbos, que é muito usado no português europeu – ao invés de “andando”, por exemplo, poderia se usar “a andar”; “a conversar” ao invés de “conversando”; e assim por diante.
3) Evite usar
muitos advérbios.
Esse ponto é mais voltado para aqueles que querem
escrever uma história de ficção, pois textos de artigos acadêmicos ou de
candidatos a vagas de estágios não verão esse ponto com tanta reverência assim
como os autores de livros de ficção o veem.
Advérbios são
palavras seguidas de verbos, adjetivos ou outros advérbios, com a intenção de
demonstrar o modo, o lugar ou o tempo em que uma ação foi realizada. Exemplos de
advérbio para o verbo “falar” constam como “rapidamente”, “lentamente”, “vagarosamente”,
“alto”, “depressa”, “bem”, “muito” (modo), “ali”, “embaixo” (lugar), “sempre”,
“ontem” (tempo) etc.
O uso de advérbios não é um problema, mas a sua
utilização constante não é recomendável, pois pode tornar o texto ambíguo e
maçante. Além disso, você pode não conseguir passar a ideia que quer passar.
Esse ponto é de mais significância para os autores
de ficção, pois advérbios geralmente são usados em histórias para dar ênfase a
uma ação, ou melhor, para construir a imagem de uma cena.
Leia-se este exemplo: “Ana pegou a adaga rapidamente
e a empunhou cuidadosamente”.
Ao invés de usar os advérbios “rapidamente” e
“cuidadosamente”, que não conseguem passar uma imagem nítida da cena que o
autor estaria arquitetando, pode-se escrever o seguinte: “Ana pegou a adaga assim
que um segundo se passou, e a empunhou com um olhar atento ao limiar da lâmina
e à posição de seus dedos e mãos no cabo da arma”. Perceba como que a cena e a
ação descrita nessa frase são muito mais transparentes e marcantes do que a
frase anterior, que tinha um grau elevado de ambiguidade em razão do abuso de
advérbios.
Com a observância e a efetivação de todos os pontos
supracitados, qualquer um pode chamar a atenção de leitores com a sua escrita, além de conseguir transmitir ideias e informações com clareza e, consequentemente, escrever um
texto de qualidade.
Espero que este artigo seja de ajuda!