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Afinal, os fins justificam os processos?

Afinal, os fins justificam os processos?
Matthæus Braga
Feb. 28 - 3 min read
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Por trás daquela vaga de trabalho, estágio ou trainee pode existir um processo seletivo abusivo com métodos pouco convencionais e dispendiosos, e é com essa urgência que precisamos tratar do assunto.

Quando eu tinha 16 anos, pela primeira vez me vi naquele momento: "e agora?", o ensino médio tinha acabado e a faculdade era uma perspectiva abstrata, restava a mim usar o "novo tempo sobrando" para conseguir um trabalho. Foi aí que, entre processos pra telemarketing a vendedor, acabei achando uma para trainee de uma empresa que oferece cursos na área da música e passei na primeira etapa. Ao ser chamado para continuar o processo, num hotel na Barra da Tijuca, de repente me vi no meio de uma sala de convenções com pelo menos mil pessoas (isso é serio) das mais diferentes realidades e idades disputando sabe se lá quantas vagas. Foi aí que descobrimos que o processo duraria duas semanas presencialmente, de manhã à tarde, com palestras e dinâmicas de grupo.  Eu fiquei pelo menos 3 dias participando, com dinheiro de passagem e alimentação custeados por mim, para assistir pessoas sendo eliminadas sem critério claro (um dos recrutadores até declarou que "precisava tirar pessoas"), participando de dinâmicas degradantes (ligar para alguém no palco oferecendo curso na frente de mil pessoas era uma delas, por exemplo), e o pior: ainda ganhávamos dever de casa. O dever consistia em trazer uma lista no dia seguinte com nomes e números de pessoas e entregar à empresa, provavelmente para a mesma se encarregar de ligar oferecendo seus cursos, e isso era uma obrigação diária que deveria ser cumprida, arriscado ser eliminado.

Eu ainda me pergunto quantos nomes e números o departamento de telemarketing deles faturou só com essa brincadeira, porque levando em consideração a quantidade de candidatos cumprindo a tarefa, provavelmente eles tiveram informações por bons anos, tudo isso gratuitamente. O trabalho já tinha começado e as pessoas estavam pagando para fazê-lo. A vaga em si, que era relacionada a telemarketing (surpresa!?), oferecia "grandes chances de promoção" e planos de carreira milagrosos (muitos agraciados pela vaga iam palestrar e dar seu "testemunho"), inflamando os candidatos a não desistirem e se submeterem as regras e políticas daquele processo.

No fim das contas, depois de muitas horas e dinheiro gastos em ônibus, tensões em dinâmicas e o medo absurdo que empregavam na gente sobre a eliminação, percebi que aquela processo e a política daquela empresa não eram pra mim. Preferi sair pela porta da frente para nunca mais voltar.

Anos depois uma amiga entrou em contato com o print do e-mail deles convidando para um processo seletivo. Sobre isso fui categórico, parafraseando Michael Jackson: "eles não ligam para nós".


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