Talvez uma das habilidades mais difíceis de se desenvolver seja a capacidade de ouvir, sobretudo nos dias atuais. Nos tornamos tão acostumados com a velocidade da vida, que por vezes deixamos de prestar atenção no que é verdadeiramente importante, e por vezes banalizando uma soft skill que a primeira vista pode parecer simples e fácil de se obter, mas na realidade, representa um desafio diário para qualquer pessoa.
OUVIR X ESCUTAR
Podemos pensar que ouvir é o mesmo que escutar, mas é justamente neste ponto que mora o engano.
O tempo todo estamos escutando algo, seja uma música tocando no fone de ouvido ou no rádio enquanto tentamos nos distrair por alguns instantes, as pessoas que vem falar conosco no trabalho, ou mesmo as vozes que vem da televisão quando a ligamos após chegar em casa. Sim, estamos escutando tudo isso, mas será que estamos de fato, ouvindo?
Enquanto escutar remete-se ao famoso pensamento de “entrar por um ouvido e sair pelo outro”, ouvir tem a ver com algo muito mais profundo, que é justamente a capacidade de interpretar e absorver o que está chegando até nós.
É fácil notar o quanto a diferença gritante entre ambos é gritante. Pense na última vez em que esteve de frente para uma televisão ligada, por exemplo. Você estava realmente assistindo, ou sua atenção estava voltada para o celular? E durante uma conversa com um amigo, você está mesmo ouvindo o que a pessoa está dizendo ou pega-se facilmente em pensamentos distantes ou se vê curioso para checar as notificações que acabaram de pipocar no seu bolso?
São ações tão automáticas - e até prejudiciais - que nem percebemos sua incidência em nosso dia a dia.
POR QUE DEVEMOS OUVIR MAIS?
Ao se deparar com as exemplificações acima, você talvez possa se identificar, mas por que devemos nos preocupar com isso, afinal?
A resposta é simples:
Porque a partir do momento em que passamos a ouvir e não simplesmente escutar, passamos a praticar a empatia. Ao parar para ouvir o que está ocorrendo, adquirimos uma concepção melhor do mundo, e não só porque passamos a ficar mais atentos, mas também porque passamos a observar as pessoas e os acontecimentos de uma maneira mais humana.
Dar atenção quando alguém vem desabafar, e não fingir que está interessado só para cumprir com o papel de “bom amigo”. Assistir um filme e tentar entender o que ele está nos passando enquanto arte, invés de dividir a atenção entre as telas. Notar as pessoas ao nosso redor com um pouco mais de sagacidade enquanto se está no vagão do metrô, e perceber que pouquíssimas estão conversando entre si, quando não o vagão está em completo silêncio, e todos preferem estar voltados para seus próprios celulares…
Tudo isso é consequência do ouvir, unido ao observar, e a medida que os colocamos em prática, no campo profissional e pessoal, as coisas passam a apresentar outro sentido. Nos tornamos mais gentis, menos egoístas e ainda, passamos a prestar atenção ao nosso próprio comportamento, pois da mesma maneira em que precisamos ouvir o que ocorre do lado externo, é importante aprender a ouvir a nós mesmos.
Não é uma tarefa fácil, e como é de praxe, necessita de muita paciência e insistência para sermos melhores ouvintes a cada dia. Mas uma coisa eu garanto: vale muito a pena.